sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Cidade histórica de Bolama: HOSPITAL REGIONAL SEM AMBULÂNCIA NEM BLOCO OPERATÓRIO

A cidade de Bolama, região de Bolama-Bijagós, depara-se com enormes dificuldades, particularmente a nível do setor da saúde, concernente à falta de meios, desde uma ambulância para transporte de grávidas para porto local, bem como a falta de uma piroga ou bote para evacuação de doentes para Bissau. Atualmente, o centro funciona sem bloco operatório para casos da cesariana e as grávidas muitas vezes são evacuadas em pirogas ou barcos para Bissau e para a ilha de Bubaque.

O “Hospital Solidariedade de Bolama” dispõe de 40 camas para internamentos e cobre uma população estimada em 7.397 pessoas, contando apenas com um (1) médico e 14enfermeiros. A ilha está a cada dia a isolar-se da capital Bissau e das outras ilhas que compõem aquela região, por falta de meios de transporte adequados (barcos), associada ao estado avançado de degradação do cais de atracagem, o que tem criado desconfiança de capitães para atracar os seus navios, fato que leva a maioria da população a viajar em pirogas.

O Democrata apurou que a ilha depara-se igualmente com a falta de segurança, sobretudo de infraestruturas adequadas para os elementos das forças de segurança, fato que fez aumentar a insegurança na ilha. Falta de emprego, particularmente para os jovens, a fome por causa de má campanha de comercialização da castanha de cajú e as infraestruturas estatais construídas no período colonial estão num estado avançado de degradação, uma boa parte está abandona.

HOSPITAL SEM CAMAS E SEM COLCHÕES PARA DOENTES E TÉCNICOS DE SAÚDE CLAMAM POR INCENTIVOS

Outro dilema enfrentado pelos técnicos de saúde colocados naquele estabelecimento hospitalar tem a ver com a infraestrutura. O edifício do hospital, que era de militares e a sua estrutura não é adequada para um hospital daquela categoria. Também tem falta de camas e colchões para os doentes internados.

As dificuldades que a ilha enfrenta foram registadas pelo repórter do Jornal O Democrata que acompanhou a visita do presidente da ANP, Domingos Simões Pereira, à província sul da Guiné-Bissau, iniciada na região de Tombali, tendo passado depois por Quínara e terminado emBolama, de 10 a 15 de outubro.

O objetivo da visita era inteirar-se das dificuldades que os cidadãos enfrentam nos últimos anos, que posteriormente serão transformados em agenda do trabalho para os parlamentares debaterem na próxima sessão parlamentar agendada para novembro.

Em entrevista ao nosso semanário para falar sobre as dificuldades da ilha, Nguabi António da Costa Júnior, jovem natural de Bolama, defendeu que é urgente que o executivo elabore um projeto para a construção de uma nova unidade hospitalar, porque “o atual centro hospitalar não oferece condições favoráveis e pode ser fonte de transmissão do câncer para os pacientes em caso de internamento”.

“O Hospital Solidariedade de Bolama não é uma unidade hospitalar, é um quartel. Não tem teto e foi coberto de fibra, por isso pode ser a maior fonte de transmissão de câncer para os doentes e os funcionários, porque quando um paciente dá entrada no hospital com uma simples patologia, pode correr forte risco de apanhar outra doença que não tem cura”, disse, acrescentando que esta é a razão que levou a população local a exigir do executivo a construção de um novo edifício com estrutura de um hospital e equipá-la com materiais e técnicos qualificados para servir a população.

Costa Júnior, como é conhecido na ilha, é também um dos jovens líderes de opinião, lembrou ao executivo que é urgente reabilitar o cais de atracagem de navios, para garantir a segurança aos navios e à população local.

“É fundamental para a segurança das pessoas reabilitar a ponte de Bolama. Temos que valorizar a vida das pessoas que vivem nesta zona. No passado, houve uma iniciativa de recolha de fundos da parte dos habitantes de Bolama para reabilitar o cais, mas o fundo conseguido nem chegou para requalificar a ponte, embora saibamos que as populações estão com consciência de que cada um de nós deve contribuir para o melhoramento do cais”, disse.

AUSÊNCIA DE TRANSPORTES LEVA AS CRIANÇAS A PERCORREREM 15 QUILÓMETROS TODOS DIAS PARA A ESCOLA

O jovem ativista relatou, neste particular, que as crianças são obrigadas a percorrerem de 12 a 15 quilómetros diariamente, das suas casas para a escola, por falta de transportes públicos. Frisou que a ilha não tem embarcações que permitam a circulação de pessoas da cidade de Bolama para as outras ilhas, incluindo para a capital Bissau.

Relativamente à situação de segurança no setor de Bolama, explicou que a Ilha das Galinhas não tem nenhum posto de polícia e que a cidade de Bolama não tem infraestruturas rodoviárias adequadas que permitam a circulação da polícia para diferentes localidades, tendo enfatizado que é urgente o executivo disponibilizar meios de mobilidade para as forças de segurança.

“O executivo deve equipar as forças de segurança com os meios necessários, meios de transporte e equipamentos para quando houver casos, para que os agentes tenham condições para dar respostas às situações de insegurança em diferentes localidades”, referiu e adiantou que a ilha deve merecer uma atenção do executivo, dado que tem condições para desenvolver atividades agrícolas, turismo e pesca.

Assegurou que a região de Bolama-Bijagós tem contribuído, de há vários anos, na arrecadação de receitas para o Estado. Apelou ao governo central a dar uma autonomia à ilha e autoridade ao novo Governador da região, de forma a servir os habitantes da zona insular com maior dignidade.

“Se olharmos para o Palácio do Governador na época colonial, o edifício era uma mansão e um paraíso. Apenas o edifício dava muita credibilidade, poder e respeito ao Governador. Deve ser reabilitado e devem ser criadas ascondições de habitabilidade. Mas se o Governador reside numa simples casa e um simples cidadão mora numa casa com melhores condições, essa situação diminui a reputação e a autoridade da maior figura na região”, criticou.

António da Costa Júnior disse que o governo central deve aumentar o valor disponibilizado para a região de Bolama Bijagó no Orçamento Geral de Estado, afirmando que a ilha não pode ter o mesmo valor que as outras regiões, devido à sua complexidade geográfica e especificidades.

Numa altura em que se avizinha a sessão parlamentar ordinária da ANP, onde será debatido o Programa do Governo e o Orçamento Geral de Estado (OGE), Nguabi António da Costa Júnior pediu aos parlamentares no sentido de chamarem atenção ao governo, que seja restaurada a cidade de Bolama, transformando-a num património mundial e elevar as principais preocupações das populações da Ilha de Bolama para a sessão de novembro.

Na sessão ordinária do Parlamento agendada para decorrer de 14 de novembro a 27 de dezembro, serão debatidas as preocupações levantadas pelas populações nas regiões, durante uma audição feita pelo líder da ANP.

Nguabi António da Costa Júnior aproveitou a ocasião para apelar aos parlamentares no sentido de chamarem atenção ao governo e levarem a cabo a iniciativa da restauração da cidade de Bolama, tornando-a um património mundial.

Os habitantes da ilha realçaram no encontro mantido com o líder do Parlamento, as medidas tomadas pelo executivo no que concerne à redução do preço do arroz, combustível e pão. Denunciaram que há escassez de arroz na cidade, porque alguns comerciantes recusaram vender o arroz no valor anunciado pelo governo, alegando que perderão com os custos de transportes até à ilha.

Na reunião, mostraram-se apreensivos com o isolamento da ilha a cada dia, particularmente com a falta de centros de formação técnico profissional para os jovens, lamentando a fuga dos jovens do setor para outras localidades em busca de melhores condições de vida.

“A Ilha de Bolama não dispõe de Bancos Comerciais, muito menos de Agências Bancárias, por isso os funcionários são obrigados a deslocarem-se até Bissau para receber os seus salários todos os meses”, criticou o representante da população na reunião com o presidente da ANP.

A população de Bolama não dispõe do Tribunal para resolver os problemas e muitos recorrem à Polícia deOrdem Pública ou à Guarda Nacional para resolver problemas. O setor tem problemas de água potável, os populares lamentam os elevados preços dos transportes marítimos e a falta de apoio para incentivar a agricultura.

Salienta-se que a região de Bolama assumiu oficialmente o estatuto de primeira capital da Guiné-Bissau, condição que manteve até à sua transferência para Bissau, a 9 de dezembro de 1945.

Por: Alison Cabral
Conosaba/odemocratagb

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