sábado, 1 de julho de 2023

CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU ENCERRA MISSÃO NO MALI APÓS DEZ ANOS

O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou esta sexta-feira, 30 de junho, o fim do mandato da sua missão no Mali (Minusma) a partir de 30 de junho de 2023 e a sua retirada do país após 10 anos de serviço.

A resolução – redigida pela França – foi adotada de forma unânime com 15 votos favoráveis de todos os Estados-membros que integram o Conselho de Segurança, após o Governo do Mali ter pedido explicitamente a retirada “imediata” da missão do país, que conta atualmente com mais de 17 mil membros e é uma das maiores do mundo.

Além de encerrar o mandato da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no Mali (Minusma) a partir de 30 de junho, a resolução agora aprovada determina que a missão inicie imediatamente em 01 de julho a transferência das suas tarefas e a retirada ordenada e segura do seu pessoal, cessando as suas operações, com o objetivo de concluir este processo até 31 de dezembrodeste ano.

O prazo de retirada de seis meses é o dobro do que o Governo do Mali pedia, mas é menor do que o prazo que os especialistas da ONU consideram realista para conseguir tirar do país todos os militares envolvidos.

A resolução aprovada inclui a necessidade do Governo do Mali garantir a segurança dos membros da Minusma neste período de transição, bem como a sua liberdade de circulação, apesar de nos últimos dias terem sido reportadas situações de assédio contra alguns dos militares, segundo denunciaram os Estados Unidos da América.

Ainda segundo a resolução, os bens – viaturas, armas pesadas, entre outros – devem ser repatriados de forma ordenada pela Minusma e o Governo do Mali deve colaborar no seu desmantelamento, evitando que caiam nas mãos de outros atores que operam no país.

Após a votação, vários membros do Conselho reconheceram os sérios riscos que a partida da Minusma representa para a segurança e a situação humanitária no Mali e na região mais ampla da África Ocidental e do Sahel.

“Embora lamentemos profundamente a decisão do Governo de transição de abandonar a Missão e os danos que isso trará ao povo do Mali, votamos a favor desta resolução, pois estamos satisfeitos com o plano de retirada que este Conselho acaba de adotar”, disse a delegação norte-americana.

“A comunidade internacional continuará a monitorizar a situação dos direitos humanos no Mali e a denunciar violações e abusos. Embora esta resolução marque o fim da Minusma, o compromisso dos Estados Unidos com o povo do Mali permanece forte e duradouro”, acrescentou.

Em 16 de junho, o Governo do Mali apanhou os membros do Conselho de surpresa ao exigir a retirada “imediata” da missão de paz no país, numa reunião em que se debatia precisamente a renovação do seu mandato.

Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores do Mali, Abdoulaye Diop, avaliou que a Minusma “se tornou parte do problema” do país e que tem despertado “grande desconfiança” entre a população e o Governo.

De acordo com o ministro, a situação no país em 2023 é pior do que há 10 anos — quando a Minusma foi implementada – o que demonstra o “fracasso” da missão. Desde o ano passado, no entanto, as autoridades malianas vêm restringindo a liberdade de movimento da missão e opondo-se aos seus relatórios sobre direitos humanos.

As relações tensas entre o Governo e a missão, juntamente com o destacamento de mercenários russos do grupo Wagner no Mali desde o final de 2021, já haviam feito com que vários países contribuintes de tropas se retirassem da Minusma.

A Minusma foi uma das missões mais mortíferas implantadas em todo o mundo nesta década, com 304 vítimas mortais em ações violentas, quase todas em ataques de grupos ‘jihadistas’ presentes em várias regiões do Mali.

O Governo que pede a retirada da Minusma é uma junta militar que derrubou o executivo anterior de Ibrahim Boubacar Keita, que havia solicitado a implantação do Minusma.

A junta militar de Bamaco chegou ao poder com um discurso marcadamente antiocidental, que se materializou primeiro na retirada abrupta das forças francesas, e depois na exigência da saída da Minusma.

Ao mesmo tempo, levou ao destacamento no país da força de mercenários russos Wagner, cujas atividades no Mali são realizadas com pouca transparência.

In lusa

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