A governadora da região de Gabú, Elisa Pinto Tavares, apontou o acesso à escola, em algumas comunidades e tabancas daquela região, como um dos estrangulamentos ao desenvolvimento da região e uma das razões de as meninas terem abandonado a escola nos momentos críticos, nomeadamente nos momentos de apanha da castanha de cajú. Acrescentou que após a sua chegada a região, constatou que existiam várias escolas sem carteiras, alunos sem escolas e escolas sem professores.
“Assim de cabeça, não tenho o número das tabancas nessa situação, mas constamos escolas sem carteiras, alunos sem escolas e escolas sem professores. É preciso que esse assunto seja resolvido, pelo menos nas tabancas com grande número de população. Devemo-nos engajar todos para resolver essa situação. A nossa ação teve impactos em algumas localidades. Por exemplo, numa das tabancas que visitamos e sensibilizamos as crianças, no dia seguinte as crianças foram à escola em massa, mas não havia professores”, indicou.
Elisa Pinto fez estas observações na entrevista ao seminário O Democrata para falar dos projetos de desenvolvimento da região leste do país, considerada a segundo maior centro económico da Guiné-Bissau.
Informou que, quando assumiu as rédeas do governo regional, uma das primeiras ações da sua direção foi iniciar um programa de restruturação do Comité de Estado local, que integra a governadora, a secretária, um contabilista, administradores e secretários administrativos setoriais.
“FUNDO DA CEDEAO VAI SER APLICADO NA REABILITAÇÃO DE CENTROS DE SAÚDE E RÁDIOS COMUNITÁRIAS”
A governadora justificou que a falta de escolas e de professores se deve a vários fatores: primeiro, porque os professores abandonam as escolas por serem mal acolhidos pelas comunidades, às vezes o professor vai e as crianças não vão, faltam por tudo e por nada, portanto “é uma situação muito desequilibrada que deve ser articulada e resolvida quanto antes para que a região possa ter crianças escolarizadas”.
Afirmou que neste momento uma das apostas da sua equipa é dinamizar e implementar o Plano de Desenvolvimento Regional de Gabú, através dos seus eixos prioritários, alertando que a implementação desse plano exige um financiamento externo, porque as receitas provenientes das taxas cobradas não são suficientes para executá-lo, lembrando que uma parte dessas receitas é canalizada para governo central.
“Infelizmente, encontramos uma estrutura fora do organigrama. Trabalhamos seriamente nessa matéria, porque a estrutura estava superlotada de pessoas. Era um excesso de pessoal. Posteriormente, organizamos as cobranças das taxas dos contribuintes que desenvolvem as suas atividades económicas na região. Essas taxas eram pagas nas mãos das pessoas, não havia segurança nem credibilidade. Também não é digno hoje em dia estar a cobrar as taxas e canalizar o dinheiro nas mãos das pessoas. Sensibilizamos os contribuintes e contatamos alguns bancos comerciais sediados em Gabú para o efeito”, assinalou.
“A região, como é sabido, não tem um financiamento nem orçamento do governo central e paga ao executivo uma parte das taxas recebidas e o resto não dá para implementar as políticas do desenvolvimento”, afirmou.
Segundo a governante regional, a percentagem enviada mensalmente ao governo central era de 10 por cento, mas depois de uma reunião do conselho diretivo decidiu-se fixar um aumento de envio das taxas de 10 para 12,5 por cento.
Adiantou que, neste momento, para além da reorganização do Comité do Estado, “estamos empenhados na elaboração de projetos em função dos eixos prioritários contidos no plano de desenvolvimento regional”.
Esclareceu que os projetos são, primeiramente, submetidos ao governo e depois aos parceiros tradicionais que apoiam o desenvolvimento da Guiné-Bissau, revelando que a região de Gabú tem recebido também apoios do fundo da estabilização da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e que neste momento está-se a finalizar os preparativos para execução desses fundos.
“Os fundos serão aplicados na reabilitação de centros de saúde, no apoio às comunidades locais e às rádios comunitárias, para que a população possa acompanhar e participar nas atividades e responder satisfatoriamente às solicitações. Temos vários projetos em manga, incluindo o de reabilitação das vias urbanas do setor de Gabú. Apenas estamos à espera que os trabalhos iniciem. O governo central já se engajou e lançou o concurso. Prevê-se também a construção da ponte de Tchetche. Temos trabalhado também no setor da educação e na problemática da não escolarização das jovens raparigas. Dados de um estudo empírico que realizamos indicam que no início de cada ano letivo a participação é ativa, mas no período de apanha da castanha de cajú, as jovens raparigas abandonam as escolas “, revelou.
Tavares avançou que depois do estudo preliminar, a administração local elaborou um projeto sobre a igualdade e equidade de género de acesso das meninas à escola, que permitiu ao governo regional ter mais elementos e dados sobre as razões da não participação e do abandono das meninas à escola.
A governadora revelou que um dos métodos adotados foi a sensibilização das populações e encontros com os líderes comunitários de nove tabancas do setor sobre as vantagens de escolarizar as meninas.
Elisa Pinto Tavares admitiu que as populações queixam-se de falta de segurança, de processos pendentes na justiça, da insegurança, roubo de gado, agressões sexuais, violência doméstica, na família e agressões físicas.
“A falta de justiça tem motivado a população a fazer justiça por mãos próprias, mas é um assunto que já está neste momento em cima de mesa a aguardar um debate sério. Já foi inaugurada uma esquadra modelo da polícia, fruto de ações concertadas com as comunidades e parceiros tradicionais que apoiam o desenvolvimento da Guiné-Bissau. Com o apoio do PNUD construiu-se a esquadra”, disse.
Questionado sobre o andamento o processo de investigação sobre a vandalização da Igreja Católica de Gabú, a governadora disse ao jornal O Democrata que não teve ainda acesso ao relatório, mas presumiu que a demora esteja relacionada à morosidade da justiça guineense.
Por: Filomeno Sambú/Aguinaldo Ampa
Conosaba/odemocratagb
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