[REPORTAGEM_agosto_2022] Mais de trezentas camponesas agrupadas numa organização denominada na língua pepel “N’daté”, no setor de Prábis, região de Biombo, norte da Guiné-Bissau, pediram à administração do setor que lhes conceda um espaço para o cultivo de produtos hortícolas, dado que o espaço que utilizam neste momento é propriedade privada e que o proprietário poderá querer recuperar o seu terreno a qualquer momento.
N’daté é a Associação de Mulheres Horticultoras do setor de Prábis que agrupa diferentes cooperativas de mulheres que se estima em mais de 300 pessoas que exercem atividades agrícolas naquela zona. O campo da associação situa-se a seis quilómetros da entrada na estrada principal de Prábis. A maioria das camponesas reside na cidade do setor e nas aldeias vizinhas da cidade, pelo que são obrigadas a alugar motorizadas todos os dias pelo valor de 1500 Francos CFA.
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PREOCUPADA COM FALTA DE MERCADO PARA VENDER PEPINOS
A presidente da Associação de Mulheres Horticultoras, Filomena Cá, explicou, na entrevista ao semanário O Democrata, que a maior dificuldade da associação das camponesas prende-se com a falta do espaço para o cultivo, sobretudo um terreno que a organização poderá vedar com arame para impedir que animais estraguem os produtos cultivados.
Informou que a associação trabalha em cooperativas através da qual recebem alguns apoios de Organizações Não Governamentais, como sementes e outros materiais, arames, catanas, regadores e outros utensílios para o trabalho de campo.
A responsável da associação lamenta as dificuldades enfrentadas pelas horticultoras. Segundo a sua explicação, são obrigadas a pagar um certo valor em dinheiro para limpar o campo e para a vedação do mesmo com arame.
“Para conseguirmos trabalhar neste campo, foi preciso pagar a alguém que aceitou cortar paus e palhas, depois vedou o espaço. Nem todas as pessoas têm disponibilidade por isso são elas mesmas que cortam os paus e vedam o campo, às vezes solicitam apoios de familiares”, contou.
Explicou que a iniciativa de organizarem-se em Associação que defenda os seus interesses surgiu quando perceberam que tornara-se difícil conseguirem sozinhas, mesmo com a ajuda dos maridos ou familiares trabalhar no campo, por isso criaram a associação para pedir ajuda às organizações não-governamentais.
“Estamos a trabalhar neste campo com o propósito de contribuir para a sobrevivência das nossas famílias na educação dos nossos filhos para que se possam formar-se e serem quadros que possam servir o país e ajudar a própria família”, enfatizou.
Solicitado a pronunciar-se sobre os apoios recebidos das organizações e de que tipo são, respondeu que a sua organização já recebeu o apoio da Associação das Mulheres de Atividade Económica (AMAE) que ajudou a associação com materiais de trabalho e arames para a vedação do campo.
“A Associação conta com mais de 300 membros inscritos que trabalham no campo e cultivam pepino e outros produtos hortícolas. Cultivamos muitos pepinos e outros produtos hortícolas para que possamos vender muito e pagar as contribuições na associação, comprar materiais e sementes agrícolas para o ano seguinte, dado que produzimos apenas no período da chuva, porque na época da seca cada qual trabalha na sua casa, onde faz um pequeno campo de tomates, pimentas, quiabos e badjiki“, assegurou.
Explicou ainda que devido ao espaço insuficiente, cada associada trabalha apenas no seu campo e não para a associação. A falta de espaço também leva algumas mulheres da associação a trabalhar em campos emprestados nas aldeias de Suro e Quicete.
Cá revelou que são obrigadas a pagar dez mil francos cfa por ano ao proprietário do espaço, de formas a poderem trabalhar naquele terreno. Por isso, aproveitou a entrevista para implorar ao governo que ordene à administração do setor de Prábis no sentido de conceder-lhes um espaço para poderem trabalhar.
Questionada se recebem alguma ajuda da administração local, Cá respondeu que até aquele momento não receberam nenhuma ajuda da administração do setor “nem sequer recebemos uma visita de administração no campo, que talvez mostrasse que se preocupa e acompanha o nosso trabalho”.
Lembrou neste particular que a associação chegou mesmo a solicitar à administração que a concedesse um espaço para trabalharem, mas lamenta o facto de até ao momento da entrevista não terem recebido resposta da administração.
Sobre o mercado para a venda dos seus produtos, informou que levam-nos diretamente para os mercados de Caracol e Bandim, onde geralmente têm clientes que os aguardam. Contudo, lamenta que não tenham a forma como conservar os produtos e que muitas vezes acabam por estragar-se, quando não conseguem vendê-los.
“Quando levamos os nossos produtos em grande quantidade, às vezes não vendemos tudo acabam por se estragarem porque não temos onde conservá-los nem temos quem possa tomá-los todos para depois pagar. São pepinos e legumes e muitas vezes não aguentam a forma como os conservamos e acabam por se estragar” contou para de seguida lamentar os “sacrifícios” das mulheres que trabalham duramente no campo e depois verem os seus produtos a estragarem-se sem que tenham conseguido ganhar algum dinheiro.
“A Associação não pode assumir grandes encargos, porque não tem campo de cultivo próprio através do qual associados pudessem trabalhar e pagar algum fundo à organização. É por isso que cada associado trabalha por conta própria e no final de cada mês paga uma quota de 250 f.cfa à associação”, referiu.
No concernente a formação na área de produção hortícola, afirmou que a sua organização já beneficiou de uma formação ministrada por uma organização cujo nome não lembra, contudo diz que as mulheres foram formadas sobre a forma de preparar os fertilizantes e o terreno para cultivar e o método usado para a plantação de produtos hortícolas.
Lamentou, por um lado, os prejuízos sofridos por causa de animais que invadem o campo e estragam os produtos, porque o campo não está bem vedado com arames. Acrescentou que já apresentaram uma queixa junto ao régulo local e pedindo que ordenasse as populações a amarrar os seus animais neste período para não estragar os produtos hortícolas, tendo assegurado que a resposta que recebem do régulo é que os animais precisam circular livremente nas suas aldeias.
Assegurou que, com o dinheiro obtido na venda de seus produtos, algumas mulheres conseguiram mandar os seus filhos estudar no exterior e outros por conta própria, enviando mensalmente, soma grande do dinheiro para pagar despesas e os estudos.
Indagado sobre a quantidade de pepinos produzidos, Filomena Cá não especificou o número em termos de quantidade, de toneladas ou quilos, mas afirmou que algumas mulheres conseguem, nos seus campos, até cinco bacias de pepinos que tiram uma só vez para vender em Bissau.
“Pedimos as organizações não-governamentais, particularmente ao governo que nos apoiem, que nos prestem atenção e nos ajudem a melhorar a nossa atividade, de forma a nos adotar de maior capacidade para podermos produzir e abastecer o mercado nacional com produtos hortícolas, e assim diminuir as nossas dificuldades”, disse.
Por: Carolina Djemé
Fotos: Marcelo Naritche
Conosaba/odemocratag
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