Bissau, 18 jul 2022 (Lusa) - Um promotor social na Guiné-Bissau, Raul Daniel da Silva, defendeu hoje que o uso do crioulo nas escolas tem dificultado o processo de aprendizagem de alunos na língua portuguesa, tanto no país, como no estrangeiro.
Secretário executivo da ONG Cooperativa Escolar São José, que se dedica desde os anos de 1980 à construção de escolas, Raul da Silva falava hoje na abertura de um seminário de formação intensiva de professores que vão lecionar nalgumas comunidades de Bissorã, no norte da Guiné-Bissau.
“O estrago que o uso do crioulo tem causado ao ensino na Guiné-Bissau é grande demais. Imagina ter um aluno até ao 12.º ano de escolaridade que não sabe se expressar nem por escrito nem oralmente na língua oficial do país”, observou o responsável.
A Cooperativa Escolar São José decidiu construir escolas nas comunidades onde o Estado não criou aquelas infraestruturas, nomeadamente no interior do país.
Além de Bissau, a organização tem concentrado grande parte da sua atuação nas comunidades de Bissorã.
Raul da Silva defendeu que a situação em toda a Guiné-Bissau “é preocupante” pela forma como o crioulo é utilizado nas escolas o que, disse, acaba por se refletir na evolução dos estudantes guineenses no estrangeiro.
“As nossas crianças têm grandes dificuldades quando vão para fora da Guiné-Bissau, por exemplo nas universidades em Portugal, acabam por demonstrar que não têm o domínio do português. Muitos alunos acabam por abandonar os estudos por dificuldades do português”, observou.
O responsável questionou que tipo de sociedade é que se está a criar na Guiné-Bissau, referindo que ter o português como língua oficial do país, mas não materna, e utilizar o crioulo “praticamente como língua de ensino” lhe causa tristeza.
“Se quisermos ter o crioulo como língua de ensino então temos de criar manuais de ensino nessa língua”, considerou o responsável da Cooperativa São José.
Raul da Silva exortou os órgãos de comunicação social guineenses a criarem programas na língua portuguesa para incentivar a população a falar e ouvir o português.
“Se quisermos ter uma saída para o mundo fora temos de saber bem o português, que é a nossa língua oficial e a seguir conhecer o inglês e o francês”, notou.
O seminário hoje iniciado decorre durante 30 dias e é ministrado por antigos professores.
Conosaba/Lusa
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