sábado, 5 de março de 2022

Falta de pagamento de pensões: EX-COMBATENTES PORTUGUESES CULPABILIZAM A EMBAIXADA DE PORTUGAL EM BISSAU



A Associação dos Antigos Combatentes das Forças Armadas Portuguesas na Guiné-Bissau culpabiliza a Embaixada de Portugal no país pela falta de pagamentos das suas pensões de sangue, invalidez e de sobrevivência.

A indignação de veteranos de guerra que serviram o exército português, no período colonial, foi transmitida ao jornal O Democrata este sábado, 05 de março de 2022, pelo presidente da associação, Amadú Djamanca, durante uma entrevista para falar de iniciativas levadas ao cabo para se encontrar com o chefe de governo português, António Costa, no quadro de uma visita oficial de 24 horas.

Segundo os dados avançados pela organização, 17.000 (dezassete mil) combatentes, entre milícias, militares, comandos e fuzileiros serviram a República portuguesa na época colonial. Deste número, dez mil estão de vida.

Amadú Djamanca explicou que, a nível dos países africanos, onde os nativos serviram o exército português, a Guiné-Bissau é o único país em que os combatentes não receberam as pensões prometidas.

Sobre a visita do chefe do governo português à Guiné-Bissau, disse que foram informados da visita e fizeram diligências junto da Secretaria de Estado da Cooperação Internacional e do Ministério da Defesa Nacional.

“Elaboramos um instrumento relativamente à situação de combatentes portugueses a ser incluído na cooperação entre a Guiné-Bissau e Portugal, que deverá ser assinado durante a visita do chefe do executivo português” notou, adiantando que solicitaram igualmente, através da Embaixada de Portugal e junto do Gabinete do Primeiro-ministro guineense, uma audiência com o Primeiro-ministro português, mas lamenta que até à hora da entrevista não receberam nenhuma resposta.

“Fizemos isso porque sabemos que na Embaixada de Portugal vamos ser barrados, porque não querem que reclamemos os nossos direitos. Continuam a alegar que já pagaram as pensões, razão pela qual criam sempre bloqueios” disse, reafirmando que é a obrigação do Estado português pagar pensões aos guineenses que serviram Portugal no período colonial.

Amadú lembrou que a embaixada tem argumentado que a questão de pagamento de pensões terá sido transitada ao Estado guineense em 1983, através de um acordo as novas autoridades de então, mas essa posição é uma “farsa e falta de responsabilidade”, apesar de ter admitido que, na realidade, existe um documento sobre esse assunto.

“O estado português fez um mau acordo com a Guiné-Bissau. Um acordo que não consegue resolver os problemas dos combatentes de liberdade da pátria que fará de os que serviram os seus adversários. O estado guineense não tem nada a ver com isso, porque, na altura, os nossos pais juraram perante a bandeira portuguesa não a da Guiné-Bissau” insistiu, para de seguida dizer que o estado guineense também poderia facilitar para que Portugal atendesse às suas exigências.

Denunciou que os antigos combatentes portugueses, seus filhos e viúvas são discriminados pelos estados guineense e português.

Djamanca disse que a sua organização pretende entregar uma carta reivindicativa ao primeiro-ministro, António Costa, para exigir, entre outros pontos, nacionalização dos combatentes, o pagamento de pensão de sangue, invalidez e de sobrevivência, acesso ao tratamento médico a todos os guineenses que prestaram serviços militares a estado português durante a guerra colonial e a recolha de restos mortais que, agora, de acordo com a solicitação do Presidente Português, passou a ser substituída pela construção de monumento memorial a estes combatentes nos locais onde ocorreram grandes fuzilamentos dos mesmos em Portugol, Mansoa, Farim, Gabú, Banbadinca, Cumere.

“Temos a informação que a pensão paga aos combatentes em Portugal é de 150 euros mensais, pagas anualmente e varia de acordo com o ano de serviço. E nós exigimos o mesmo tratamento porque travamos a mesma luta”.

Contou que a sua organização participou, no congresso dos ex-combatentes portugueses nos PALOP, durante o qual ficaram a saber que a Guiné-Bissau figura na cauda da lista de países mais penalizados e o único que ainda não recebeu suas pensões e algumas regalias a que tem direito.

“A Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau está a servir aos que não fizeram nada para Portugal. Deveriam servir e defender os que lutaram para a pátria portuguesa “, concluiu.

Por: Epifânia Mendonça
Foto: E.M
Conosaba/odemocratagb

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