O presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, afirmou que a aterragem do avião que continua retido em Bissau não é um caso isolado, nem um simples acaso.
O líder do PAIGC fez essa afirmação esta quinta-feira, 2 de dezembro de 2021, em entrevista a alguns órgãos nacionais e internacionais, na qual abordou vários assuntos internos do partido, do país, a passividade e indiferença da comunidade internacional perante os acontecimentos que ocorreram nos últimos tempos na Guiné-Bissau.
Questionado se a polémica à volta do avião retido no aeroporto de Bissau trouxe algum equilíbrio na governação do país, Domingos Simões Pereira disse que não lhe interessa fazer comentários de duas instituições que não seguiram os “parâmetros legais e democráticos” e “estar agora a avaliar se alguém ganhou ou não protagonismo, não. Os dois são ilegais e num estado de direito democrático deveriam ser inexistentes”.
Domingos Simões Pereira frisou que se não fosse o avião, seria outra coisa, porque “uma entidade ilegal terá sempre comportamentos à margem daquilo que são as normas”.
“Não é caso isolado, nem um simples acaso o que está a acontecer. O acaso terá sido o fato de o avião ter sido abordado. Se outros aviões que passaram por cá tivessem sido abordados, já há muito tempo que teríamos tido estasituação…”, assinalou.
O líder do PAIGC afirmou que todos os guineenses hoje estão “perturbados” por estarem a receber informações de que o governo senegalês ratificou um acordo de exploração petrolífera assinado entre os dois “ditos chefes do Estado”, da Guiné e do Senegal.
Para Simões Pereira, não pode parecer estranho essa história, porque revela aquilo que, à partida, tem sido o comportamento “do nosso autoproclamado”, que acha que tem competência e prerrogativa para fazê-lo a seu belo prazer.
“Para ele [PR], ter um avião no aeroporto sem identificação da proveniência e da carga é perfeitamente normal, entrar e sair do país com voos não comerciais que não passam pelas regras de segurança, ter exércitos estrangeiros a fazerem exercícios no território nacional sem conhecimento da Assembleia Nacional Popular e proceder à assinatura de acordos para a exploração dos recursos naturais sem assinatura da ANP, isto tudo é normal”, notou.
Sobre a posição do seu partido em relação ao Orçamento geral do Estado (OGE), Domingos Simões Pereira disse que a sua bancada parlamentar está disposta a debater os instrumentos de governação na ANP, mas não com entidades “ilegais”, por isso os deputados do PAIGC têm evitado interagir com os membros do atual governo, escolhendo às vezes entre ficar ou sair da sessão.
O governo de Nuno Nabian depositou na passada terça-feira, 30 de novembro, o Orçamento Geral do Estado (OGE) para o ano económico de 2022.
Em reação, Simões Pereira disse que nenhuma das datas previstas na constituição e no regimento da Assembleia Nacional Popular foi cumprida e isso deveria ter acontecido em outubro, mas só foi entregue em finais de novembro.
“É absolutamente inaceitável, incompreensível e quase uma brincadeira ter um governo que contrai dívidas, assume-as e as executa e agora apresenta um Orçamento Geral do Estado sobre um programa que já está a executar”, criticou e disse que a taxa de despesas dos órgãos da soberania, órgãos de representação, é um “escândalo”.
Instado a pronunciar-se sobre a situação política da Guiné-Bissau, o presidente do PAIGC afirmou que o país está a aproximar-se “perigosamente” de uma situação de “não Estado”, de catástrofe e de “anarquia física”.
“A nossa soberania está absolutamente violada, mas temos que fingir que vivemos um quadro de normalidade, não. Isso acontece em relação às nossas fronteiras marítimas e terrestres, sem falar do último comunicado de FDC que diz: reservar no direito de atacar as populações guineenses, por existir um acordo entre os governos da Guiné-Bissau e do Senegal para serem atacados a partir do território da Guiné-Bissau”, revelou.
Perante estes fatos, o presidente do PAIGC acusa a ANP de nada ter feito perante as ameaças, deixando a população da zona fronteiriça exposta à sua sorte para se defender.
Para Simões Pereira, a passividade da comunidade internacional não se trata apenas de uma apatia, mas sim o país está em presença de um comodismo é uma espécie de “letargia absoluta”.
“É caso para dizer que estamos cansados deixem-nos descansar, portanto que descansem”! ironizou Simões Pereira.
Por: Filomeno Sambú
Foto: F.S
Conosaba/odemocratagb
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