O deputado guineense Marciano Indi, da Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau, sequestrado hoje nos arredores de Bissau, já foi libertado, disse à Lusa fonte do parlamento guineense.
"O deputado já está livre dos desconhecidos que o sequestraram depois da intervenção do presidente da Assembleia Nacional Popular", disse a mesma fonte.
Segundo a fonte, o deputado esteve em casa do presidente do parlamento, Cipriano Cassamá, está bem de saúde e foi levado para sua casa perto da localidade de Safim.
A população de Safim, a cerca de 15 quilómetros da capital da Guiné-Bissau, invadiu hoje o posto de segurança daquela localidade, na sequência do rapto por desconhecidos do deputado guineense Marciano Indi.
Marciano Indi é filho do antigo régulo de Safim e um "homem muito querido pela população", acrescentou.
É conhecido pela sua posição de crítica feroz ao atual poder na Guiné-Bissau, nomeadamente ao líder da APU-PDGB e primeiro-ministro, Nuno Nabian, com quem se incompatibilizou de forma aberta.
Indi tem defendido a continuidade do seu partido no acordo de incidência parlamentar assinado com o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), em março passado, para desta forma criar uma maioria no parlamento.
Nabian, que assinou o acordo com o PAIGC, entretanto invalidou aquele compromisso, firmando outro com o Movimento para a Alternância Democrática (Madem G-15) e o Partido da Renovação Social (PRS).
Com base neste acordo, Nabian reclama uma nova maioria parlamentar, mas sem o PAIGC.
Numa entrevista, na quinta-feira à noite, a um canal televisivo nas redes sociais, Marciano Indi voltou a colocar em causa a maioria reclamada por Nabian, defendendo que se o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, conceder o direito de governar "à pretensa nova maioria" estará a cometer uma inconstitucionalidade.
Um irmão do deputado confirmou que aquele foi raptado na localidade de Djaal quando se encontrava na sua viatura, ao lado do motorista e de um amigo.
O PAIGC venceu as legislativas de março de 2019 sem maioria e fez um acordo de incidência parlamentar com a APU-PDGB, Partido da Nova Democracia e União para a Mudança, obtendo 54 dos 102 assentos no parlamento.
Logo no início da legislatura, o líder da APU-PDGB, Nuno Nabian, que ocupava o cargo de primeiro vice-presidente do parlamento, incompatibilizou-se com o PAIGC e aliou-se ao Madem-G15, segunda força política do país, com 27 deputados, e Partido da Renovação Social, que elegeu 21 deputados.
Apesar da nova aliança, quatro dos cinco deputados da APU-PDGB mantiveram a sua lealdade ao acordo de incidência parlamentar assinado com o PAIGC.
Os dois blocos alegam ter a maioria no parlamento.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), organização sub-regional que tem mediado a crise na Guiné-Bissau, emitiu um comunicado em abril, onde reconhece Umaro Sissoco Embaló como Presidente do país e insta as autoridades a nomear um Governo, que respeite os resultados eleitorais, até hoje, bem como uma revisão à Constituição, que seja aprovada por referendo.
A Guiné-Bissau tem vivido desde o início do ano mais um período de crise política, depois de Sissoco Embaló, dado como vencedor das eleições pela Comissão Nacional de Eleições, se ter autoproclamado Presidente do país, apesar de decorrer no Supremo Tribunal de Justiça um recurso de contencioso eleitoral apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira.
Na sequência da sua tomada de posse, o Presidente guineense demitiu o Governo do PAIGC liderado por Aristides Gomes e nomeou para o cargo Nuno Nabian, líder da APU-PDGB, que formou um Governo com o Madem-G15, o PRS e elementos do movimento de apoio ao antigo Presidente guineense, José Mário Vaz, e do antigo primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior.
Domingos Simões Pereira, líder do PAIGC, não aceitou a derrota na segunda volta das presidenciais de dezembro e considerou que o reconhecimento da vitória do seu adversário é "o fim da tolerância zero aos golpes de Estado" por parte da CEDEAO.
A União Europeia, União Africana, ONU, Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e Portugal elogiaram a decisão da organização sub-regional africana por ter resolvido o impasse que persistia no país, mas exortaram a que fossem executadas as recomendações da CEDEAO, sobretudo a de nomear um novo Governo respeitando o resultado das últimas legislativas.
O Supremo Tribunal de Justiça remeteu uma posição sobre o contencioso eleitoral para quando forem ultrapassadas as circunstâncias que determinaram o estado de emergência no país, declarado no âmbito do combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus.
Conosaba/Lusa
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