sábado, 28 de dezembro de 2019

MENSAGEM DOS LIDERES RELIGIOSOS DA GUINÉ-BISSAU POR OCASIÃO DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 24 DE NOVEMBRO DE 2019

Garandis kuma: “fidju di si n’sibiba nunka ka padidu.”
Ao Povo Guineense,

Aos Órgãos de Soberania Nacional,
Aos Candidatos e Eleitores,
À Comunicação Social,
À Comunidade Internacional,

A presente mensagem quer ser uma das expressões do cumprimento da nossa missão em prol da paz, reconciliação e harmonia, condições absolutamente necessárias para o processo de desenvolvimento e o bem-estar de todos os cidadãos.
1. Expectativas defraudadas
O resultado das Eleições Legislativas de 2014 e as ações de governação subsequentes tinham suscitado um grande entusiasmo e alimentado a esperança do povo durante algum tempo. Infelizmente, constatamos com tristeza, tal esperança transformou-se em incertezas e desilusão, devido à instabilidade instalada no país até a data presente. Este facto tem constituído um bloqueio à evolução política, económica e social, rumo a um real crescimento.

Apesar das perturbações políticas vividas nestes últimos anos, o civismo e o espírito patriótico do povo e a solidariedade da Comunidade Internacional falaram mais alto, possibilitando a realização das Eleições Legislativas do dia 10 de março de 2019.
O aproximar-se do novo pleito eleitoral está a fazer aparecer alguns sinais e fatos preocupantes: tendências vincadas de instrumentalização religiosa e étnica, uso frequente de linguagem violenta, desrespeito dos princípios democráticos, recurso à difamação e desinformação, vontade deliberada de dividir para reinar, enfim, seguir a lógica segundo a qual, “os fins justificam os meios”.

Tudo isso contraria a grande aspiração do povo: ter uma classe política que esteja ao seu serviço, preocupada unicamente com o Bem Comum, que é “o conjunto das condições da vida social que permitem, tanto aos grupos como a cada membro, alcançar mais plena e mais facilmente a própria perfeição”(Gaudium et Spes, 26).
2. Importância das eleições
Embora as eleições não sejam a única solução de todos os problemas do país, elas são incontornáveis no processo democrático. É o momento privilegiado para a manifestação pública da cidadania. É o momento em que o povo manifesta o seu desejo de colocar na direção do país líderes carismáticos, coerentes e prudentes que fundamentam as suas ações nos princípios morais e aplicam-nos, tendo em conta as consequências que daí derivam.
As eleições constituem um espaço determinante para a apresentação de projetos de sociedade e de desenvolvimento em prol do futuro do país. E sendo um dos fundamentos da democracia representativa, todo cidadão deve exercer, sabiamente, o seu direito de voto. A qualidade objetiva do voto de cada cidadão pode provocar mudanças positivas, isto é, reforçar a cultura democrática, a cidadania responsável e a unidade nacional.
3. Apelos
- Que o Povo Guineense, concretamente os eleitores, como no passado, demonstre novamente o seu tradicional espírito patriótico, o seu elevado grau de civismo e a sua participação ativa e democrática;
- Que os candidatos às presidenciais saibam encarnar os nobres ideais da política e traduzi-los em projetos concretos de sociedade e de desenvolvimento sustentável. Que durante a campanha eleitoral saibam propor mensagens de reconciliação, de unidade, de solidariedade e demais valores que enaltecem a dignidade humana e satisfazem as exigências da democracia representativa.

- Que os candidatos, diante dos resultados eleitorais, saibam aceitá-los com um espírito de far play democrático; e em caso de contestação recorram unicamente às vias legais;
- Que no seu agir, os Órgãos de Soberania, durante todo o processo eleitoral, pautem pelo estrito cumprimento das Leis da República, contribuindo, assim, para que o povo acredite mais na democracia e possa exprimir as suas opções de maneira responsável;
- Que os agentes de Comunicação Social respeitem a sua deontologia profissional, através de uma informação que promova a verdade, estimule a disciplina, a ordem, o respeito do outro, favorecendo um clima de justiça e paz social.

- Que a Comunidade Internacional continue a manifestar a sua multiforme solidariedade para com o povo da Guiné-Bissau, de modo que num futuro próximo esta Nação esteja em condições de assumir seu lugar nesta rede de cooperação internacional;
Que Deus nos abençoe, abençoe a nossa jovem democracia e nos guarde na paz interior e social.
Feito em Bissau,31 de outubro de 2019
Os Líderes Religiosos das Comunidades Católica, Evangélica e Muçulmana da Guiné-Bissau.
Conosaba/aliu cande


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