terça-feira, 19 de novembro de 2019

«ENTREVISTA» "É CLARO QUE OS NOSSOS POLÍTICOS GUINEENSE SÃO INSENSÍVEIS À POBREZA" - DR.M’BANA N’TCHIGNA, MESTRE EM POLÍTICAS PÚBLICAS


Domingo, 15 de setembro de 2019

1-Conosaba: Dr. M’BANA N’TCHIGNA nasceu na Guiné-Bissau, concretamente de que zona?

MN- Eu sou natural de Banta-El-Sillá, secção que faz parte de sector de Búba, região de Quínara.

2-Conosaba: Dr. Vive atualmente aonde? Gosta da sua terra e o seu Povo? Quer partilhar connosco um pouco o seu percurso de vida e o que faz no Brasil até a data presente?

MN- Vivo no município de Vila Velha, estado de Espírito Santo – ES – Brasil. E nunca deixarei de gostar da minha terra e do meu povo. Para afirmar que o meu percurso de vida começou na vila de Banta-El-Sillá, onde cresci até aos 17 anos de idade sob educação dos meus pais e do povo da etnia Brassa (Balanta).

Na idade citada acima, sai como um adolescente analfabeto para cidade de Bissau em busca de formação académica e oportunidade de emprego. Comecei a estudar e de forma intensa o meu estudo foi brilhante. Não me considero aluno genial, porém muito esforçoso. Aos 27 anos de idade consegui uma bolsa de estudo para estudar filosofia no Brasil.

No Brasil, graduei em licenciatura plena em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais-PUC-MG. Especializei em Ensino Religioso na Faculdade Unida - FU em Vitória Espírito Santo - ES e mestre em Políticas Públicas pela faculdade – EMESCAM em Vitória, Espírito Santo -ES.


Tenho experiência profissional no Ensino Básico, Médio e superior na modalidade Educação de Jovens e de Adultos-EJA, atuando nas disciplinas de Filosofia, História e Ensino Religioso. Desenvolvo projetos que objetiva romper os estereótipos sobre a cultura dos povos africanos. Sendo a minha área de interesse: Filosofia, História, antropologia cultural e social africana fazendo uma interfase com a cultura afro-brasileira.

Trabalho como professor de: História e de Ensino Religioso pela Prefeitura de Município de Vila Velha atualmente num projeto denominado: Coordenação de Estudos Africanos Afro-brasileiro e Indígena – CEAFRI onde atuo como professor numa perspectiva de olhar africano com projeto denominado “A África Contada por um Africano: - África que afrodescendente desconhecem.”

3-Conosaba: O Senhor que é Mestre e Especialista em Políticas Públicas…por favor, sem rodeios, esclarece-nos, o que é Poder Local e para que serve?
MN_O poder local na é nada menos e nada mais de que a desburocratização e a permissão de forma racional o funcionamento independente de um governo central. E serve para articular, dinamizar a cidadania; edificando diálogo entre cidadão e autoridade sobre questionamentos que cidadão não podia ter acesso num governo centralizado. 


4-Conosaba: É importante e urgente realizar eleições autárquicas no nosso país? Porquê?

MN- Na Guiné Bissau de hoje as instituições e os institutos de governos não tem controles adequados e nem funcionam.
-Daí que é necessário desencadear o potencial regional para crescer e estimular quem “dorme” ou o “preguiçoso a reagir.” Entendo que com essa filosofia é a forma de delegar a região o comando de si próprio. Encarregue de poder absoluto sobre si. Por outro lado; significa a procura de autossuficiência econômica. Acredito que é imperativa essa forma de governo na Guiné Bissau. Vejo que “autarquia” nos permitirá organizar a economia de cada região visando a competividade regionais. Permitir as regiões a sobreviverem apenas com suas próprias atividades sem precisar de apoio externo.

Com essa iniciativa autárquica, país saberá ao longo do tempo interpretar as fragilidades e potencialidade regionais e preparar para sua defesa econômica ou política de forma eficaz. Filosoficamente um governo autárquico da Guiné Bissau estudará ao longo do tempo características regionais podendo descobrir qualidades e valores individuais das regiões para conduzir vida do povo guineense da melhor forma possível. Elevo meu pensamento ao Platão que interpretou a autarquia como “qualidade da perfeição”. E por sua vez a Aristóteles, seu contemporâneo que relaciona a autarquia ao “bem” e “a base para a felicidade do indivíduo”. A descentralização a administração pública que se concentra só em Bissau não é necessária e nem responde mais expectativa do país.
Sobre Educação…

5-Conosaba: O ano letivo nas escolas públicas da Guiné-Bissau foi considerado nulo pelo Governo, o que pensa sobre este a nulidade?

MN-Anualidade do ano letivo é um retrocesso criminoso frontal e cruel! É uma pena ver nossos alunos (filhos e netos) sendo adiados suas juventudes e futuros como o governo guineense o fez connosco! Governo da Guiné Bissau não tem amor e nem sonha em construir a nossa nação.

Senão vejamos: ao mesmo tempo que o ano letivo é nulo o processo eleitoral foi recheado de aviões que pousam em Bissalânca com materiais de campanha eleitoral (bicicletas, motos, viaturas e etc.). Os políticos flagrados a distribuírem dinheiros criminosamente aos eleitorados em plena luz de dia em Gabu. Se têm dinheiro para campanha eleitoral e não o têm para investir na educação, só vejo crime contra a nossa educação. Infelizmente, a impunidade impera no país. Todos deveriam ir para cadeia. 

6-Conosaba: O Dr. acha correto, atitudes e o comportamento dos professores das escolas públicas da Guiné-Bissau, que têm estado em greves quase ininterruptas desde a abertura do ano letivo em outubro do ano passado?

MN-Sim. Eu dou 100% de razão aos professores. É a única arma que lhes sobram para lutar. Porque salário; isto já é defasado e mal dá para sobreviver. Não pode funcional educação sem a sobrevivência do professor e muito menos a qualificação dos mesmos garantidas. Por extensão, sem matérias básicos e nem o mínimo do conforto em estabelecimento do ensino. Para mim infelizmente é melhor anualidade de que enganar alunos fingindo passa-los de ano produzindo mais analfabetos funcionais que já temos em todos os cantos do país e na praça de Bissau.

7-Conosaba: Se pudesse, o que faria e como reformaria o Sistema Educacional da Guiné-Bissau?

MN-Em primeiro; eu aplicaria a institucionalização das autarquias locais como forma de desencadear estimulo e potenciais regionais para crescimento de província Sul, Leste e Norte.
Em segundo; permitir cada província a delinear caminho para o futuro imediato e longo em sua política educacional. Que faça frente ao analfabetismo e a desigualdade social estimulando a equidade.
Em terceiro lugar; permitir ao povo guineense a entender que a educação é a única arma possível utilizar através da qual o bem-estar de sua vida a nível de região e setor é possível. Propor estímulo de desenvolvimento em seus próprios territórios a sustentabilidade da educação local. Promover aproximação e competição abrindo corrida em busca de aperfeiçoamento embasada no respeito a particularidade regional. Para que Sistema Educacional da Guiné-Bissau experimente a mudança.

9-Conosaba: Se um dia for convidado para dar o seu contributo ao nível da administração pública na Guiné-Bissau, o senhor iria sem hesitar?

MN-Com certeza. Alias, é o meu sonho.

10- Conosaba: Parece que a Guiné-Bissau entrou numa espiral de dificuldades de coabitação entre os diferentes órgãos de soberania. É um assunto que se tornou praticamente uma cultura na esfera política e institucional, desde que a Guiné-Bissau adotou o multipartidarismo e o regime democrático. Na sua opinião acha que há motivos para essa dificuldade de coabitação? Por outro lado, em circunstâncias normais, nunca se sabe o futuro…se calha, um dia for governante no seu país, o que fará para resolver esse problema que ameaça à paz social e a frágil democracia guineenses?

MN- As “dificuldades de coabitação entre os diferentes órgãos de soberania” em se coabitarem entre “diferentes esferas políticas e institucional” ao meu ver não deve ser atribuída ao multipartidarismo e nem ao regime democrático. Eu diria que essas dificuldades de coabitação são fabricadas para proteger interesse de certos políticos que quando sentem que seus interesses estão ameaçados, criam a dificuldade. Cito um dos incidentes. Me refiro ao golpe militar que foi executado pelo Antônio Indjai enquanto chefe de Estado Maior da Força Armada. Afirmou que a Comunidade Internacional acredita que a reforma militar guineense deve reformar 60% de militares Balanta e ainda; em: Burquina Fasso, Codovoar e Togo ouviu acusação sobre a etnia Brassa (Balanta) como fator de instabilidade da Guiné Bissau. Quando Indjai pergunta sobre quem veiculou a informação para essa Instituição Internacional e esses países, a resposta foi: então governo de Raimundo Pereira, ou seja, políticos guineenses. Então, disseminam problema dessa forma estereotipando a esfera militar que entendem que é ameaça a seus mandatos. E por extensão, quando a MISANG for obrigada a retornar para Angola vimos todos pela a rede televisiva armamentos que estavam em segredo com essa missão Angolana na Guiné Bissau. Tudo sob olhar protetor de então órgão soberano do país. Se a “Intervenção do senhor General António Indjai, ex-chefe do estado-maior das Forças Armadas da Republica da Guiné – Bissau, contributo para reconciliação nacional em agosto de 2013” (ler neste link http://tchogue.blogspot.pt) não foi contestada até hoje pelo Raimundo Pereira, Cipriano Cassama e João Monteiro sobre o que afirmou, Indjai, eu sou obrigado acreditar que os políticos que prejudicam a esfera política e as instituições do nosso país. E o mais grave, incitam ódio tribal.

Para resolver esse problema que nos ameaça só tem um jeito. Colocar na cadeia esses políticos que põem instituições internacionais a desacreditar no país e ainda nos colocam a odiar um a outro. Tem que ser criminalizado quem quer que seja que pratique tribalismo verbalmente na Guiné Bissau. Se não houver punição exemplar continuaremos nessa impasses. Até hoje o que Cipriano Cassama, João Monteiro e governo de transição de Raimundo Pereira responderam criminalmente? Não responderam nada. Eu como pertencente dessa etnia senti ofendido e quero retratamento público resposta e pedido de desculpa por parte deles a etnia Brassa (Brassa). Se não, continua ameaça real à paz, a sociedade e a frágil democracia guineense.

11–Conosaba: para uma pessoa que está longe da Guiné-Bissau parece haver da parte da classe política uma grande insensibilidade relativamente ao fenómeno da pobreza e da miséria que está por todo o lado na Guiné-Bissau. Acha que a classe política guineense é mesmo insensível à pobreza?

MN- Conasaba; “parece haver...” não. É claro que são insensíveis à pobreza! Não é demais frisar o que falei na questão de número (5) sobre anualidade do ano letivo como um retrocesso [...] cruel. Se a classe política tem coragem de desviar arroz que a China ofereceu ao povo recentemente; Se a classe política tem coragem de extorquirem camponeses suas castanhas de cajus; Se a classe política tem coragem de desviar dinheiro no cofre público para compra de suas propriedades fora da Guine Bissau deixando hospitais sem remédios, escolas sem infraestruturas, salários dos professores a pagar, servidores públicos sem assistências mínima; Se a classe política tem coragem de assinar cheques para que suas amantes e concubinas vão à finança e levantem dinheiros para seus bel-prazeres; Se a classe política tem coragem de permitir que União Europeia, concretamente; Reino Unido, Espanha, Portugal, Grécia, França, Portugal e não sei mais quem, pescar nas nossas águas territorial a troco de menos de dezasseis milhões de euros (16.000.000€), como é que esses políticos podem convencer alguém que não são “insensíveis a pobreza” e ao sofrimento do povo..?

12–Conosaba: Não preocupa à classe política guineense o facto de o povo estar completamente alheio às “guerras” que presentemente se assistem na esfera política e institucional na Guiné-Bissau? Dá a sensação de que há um descrédito generalizado sobre as capacidades do guineense resolver os seus próprios problemas de uma maneira civilizada. Quer fazer um comentário sobre isso?

MN-Creio que não. Mas me parece que é uma mera ilusão por parte deles, políticos. Para mim os políticos estão acumulando dívidas e culpas acertar um dia com o seu povo. Usam dinheiro para comprar aqui, ali e, acola. Compram a consciência de um e de outro e silenciam quem conseguem. É uma ilusão que os políticos vivem. Tudo tem começo e fim. Vejo amadurecimento da nação em certas greves expedidas no país. Creio que tarde ou sedo hão de se surpreender com a reação do povo e ou com um político que não conforma com tudo isso.

13–Conosaba: Pensa que o povo guineense deve ainda ter esperança em relação ao futuro?

MN-Sim. Eu acredito que a esperança é a ultima a morrer. Eu vejo como Amílcar Cabral afirmava que estamos para cumprir dois programas na nossa luta: “programa menos e a maior.” Programa menos teve também descredito durante 11 anos de luta armada e muitos abandonaram foram se juntar com inimigo, tuga. Mas o povo conseguiu a independência. Assim também será nessa marcha em programa maior. Construção nacional não nos será fácil, mas tenho esperança de que chegará o dia em que teremos pelo menos o básico. Vamos conseguir. Somos um povo corajoso e orgulhoso por natureza na nossa terra. Vamos conseguir.

14.Conosaba: que mensagem final gostaria de deixar aos nossos leitores e aos guineenses em geral?

MN-Digo a todos que leitores e guineenses; convicção de que podemos ser um dia povo feliz e prospero, nunca deve ser abalada por “tempestades” que no momento nos abala. A estrutura social da Guiné Bissau será edificada. Onde teremos escolas, museus, teatros, ruas, avenidas e rodovias asfaltadas, hospitais e casas dignas de orgulho de todos guineenses.

Mestre em Política Públicas: M’bana N’tchigna

Feito por: Pate Cabral Djob (Sêlé Dan-di Mansoa)

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