terça-feira, 21 de maio de 2019

AS FRAGILIDADES DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS QUANTO AO RISCO DE BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS NA GUINÉ-BISSAU

Nos últimos tempos, muito se tem falado de branqueamento de capitais na Guiné-Bissau, sobretudo durante o período de campanha eleitoral para as eleições legislativas que tiveram lugar em março último.

Mas o que é o branqueamento de capitais? De uma forma simplificada, “é dar um aspecto lícito a um dinheiro de origem ilegal”, sendo as fontes ilegítimas mais comuns desses capitais o narcotráfico, o tráfico de seres humanos, o tráfico de armas, a corrupção e o terrorismo.

A característica comum é tratar-se de actividades ilícitas que requerem uma estrutura organizada de modo a permitir a penetração dos capitais no circuito económico (legal) dos Estados.

Será que a Guiné-Bissau é vulneravel ao Branqueamento de Capitais?

A Guiné-Bissau é um país muito vulnerável a todo o tipo de riscos financeiros e, em particular, é um país muito exposto ao risco de branqueamento de capitais.

Em 2013, o relatório do GIABA (Grupo Intergovernamental de Ação contra o Branqueamento de capitais na África ocidental) considerou a Guiné-Bissau um país com grande vulnerabilidade e potencial para atrair criminosos que se dedicam ao branqueamento de capitais.

O branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo são crimes que ocorrem, infelizmente, em todos os países do mundo. No entanto, os países com maiores fragilidades, como a Guiné-Bissau, são alvos preferenciais dos criminosos que se dedicam a estas práticas. Não obstante, nenhum caso de branqueamento de capitais foi até hoje objeto de acusação, muito menos de julgamento, na Guiné-Bissau.

Segundo a Célula Nacional de Tratamento de Informações Financeiras (CENTIF), os dados estatísticos relativos ao engajamento do país na luta contra o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo não são animadores, o que demonstra uma falta de compromisso político ao mais alto nível.

A Lei n.º 3/2018, promulgada no Boletim Oficial a 26 de Julho, estabelece medidas de natureza preventiva e repressiva no combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo, transpondo para a ordem jurídica interna a Diretiva n.º 02/2015/CM/UEMOA, de 2 Julho, relativa ao BC/FT no espaço UEMOA e a decisão n.º 26 de 02/07/2015, concernente à adoção do projeto de Lei Uniforme relativa ao BC/FT no espaço dos Estados Membros da União Monetária da Africa Ocidental (UEMOA).

A lavagem de capitais é um meio para esconder muitos outros crimes, nomeadamente a corrupção, um flagelo que atinge a Guiné-Bissau.

Perfil do branqueador:
Por norma, trata-se de indivíduos pertencentes às redes de branqueamento de capitais, com aparência de clientes absolutamente normais, muito educados, inteligentes, bem relacionados socialmente, com aparência de empresários, com capacidade de agir sob grande pressão.
Papel dos Bancos Comerciais no combate ao branqueamento de capitais
Os bancos são os principais operadores das trocas financeiras. Os mesmos respeitam atentamente as regras de vigilância e contribuem para detetar operações suscetíveis de constituir ou de originar branqueamento de capitais.

O branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo são fontes de seríssimas preocupações em matéria de segurança. Os bancos existentes na Guiné-Bissau dispõem de um quadro jurídico no que toca ao combate aos fluxos ilegais de dinheiro líquido, mas é necessário envidar esforços para assegurar que as regras são aplicadas de forma coerente em todos os bancos existentes na nossa praça (BAO, BDU, ECOBANK, ORABANK e ATLANTIQUE).

Alguns bancos apresentam ainda insuficiências no que tange à prevenção do branqueamento de capitais, nomeadamente a inexistência da declaração de origem e destino de fundos. Numa das minhas investigações anteriores, pude constatar que as instituições bancárias não têm mecanismos suficientes para avaliar e monitorar o risco do cliente.

Recorda-se que não compete aos bancos denunciar os infratores, mas sim encaminhar os casos suspeitos para a CENTIF.

Temos de identificar riscos porque o país atrai cada vez mais capital estrangeiro.

Papel da Célula Nacional de Tratamento de informações Financeiras (CENTIF)
A CENTIF é uma célula financeira que atua sob tutela do Ministério das Finanças, desempenhando um papel central no dispositivo nacional de luta contra o branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo. A estrutura está encarregue de identificar as operações suspeitas. Ela dispõe de independência na tomada de decisão em matérias relevantes da sua competência, assim como autonomia de gestão.

A CENTIF produz relatório para o Ministério das Finanças sobre as suas atividades. Este relatório é igualmente transmitido ao Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO), e ao Conselho de Ministros da UEMOA que é uma estrutura de apoio da CENTIF.

Notas Finais:
ü  Elevação do nível de conscientização sobre os efeitos nocivos do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo;

ü  Melhoria da compreensão e do apoio das organizações da sociedade civil aos objetivos do GIABA (organização ao nível da CEDEAO na luta contra o branqueamento de capitais)
ü  Incentivo à CENTIF para continuar os seus ciclos de formação aos magistrados, bancários, técnicos do Ministério das Finanças, seguradoras, etc. para estarem à altura do desafio deste fenómeno criminoso.

Para fechar este artigo, gostaria de partilhar com os leitores os dados do Instituto Basel de Governação, uma entidade independente com sede na Suíça sobre os países que melhor previnem o branqueamento de capitais: 1º Finlândia, 2º Estónia, 3º Eslovénia, 4º Lituânia, 5º Nova Zelândia. No fundo da tabela estão o Irão, seguido pelo Afeganistão, o Tadjiquistão e… a nossa Guiné-Bissau… A lista é elaborada com base em avaliações institucionais, mas também tem como fontes o Banco Mundial, o Fórum Económico Mundial ou a Transparência Internacional.
“Precisamos de Investidores e não de branqueadores”

Apenas uma contribuição enquanto bancário!

Mestre: Aliu Soares Cassamá

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