segunda-feira, 8 de abril de 2019

«OPINIÃO» " VENDE-SE DINHEIRO MUITO CARO NA GUINÉ-BISSAU?" - MESTRE: ALIU SOARES CASSAMA


No passado dia 4 de abril, pelas 10h da manhã, recebi por WhatsApp um artigo muito interessante enviado por um amigo de longa data, o Dr. Santos Fernandes. O artigo tinha sido publicado no “NOVO JORNAL DE ANGOLA” e anunciava a redução das taxas de juro no financiamento bancário angolano. O Banco Nacional de Angola (BNA) instou as instituições financeiras comerciais a operar naquele país lusófono a aplicarem uma taxa de juro igual ou inferior a 7,5%, contra os atuais 26%, já a partir do corrente mês de abril.

Ora, fazendo uma análise da descida de uma das variáveis mais relevantes para a atividade bancária, achei boa a decisão do BNA. Juros na ordem dos 26% são de todo exorbitantes para uma economia dependente de uma só commodiy que é o petróleo; já a anunciada redução para 7,5% aumenta dramaticamente as possibilidades de financiamento da economia a todos os níveis. Agora sim, Angola estará em condições de pensar numa verdadeira diversificação económica.

A taxa de juro é o instrumento utilizado pelo Banco Central para manter a inflação sob controlo ou para estimular a economia. Se os juros descerem muito, a população fica com mais acesso a crédito e assim poderá consumir mais. Por outro lado, se os juros subirem muito, gera-se uma inibição generalizada ao nível do consumo e do investimento, que ficam muito mais caros, e a economia desacelerará forçando os preços e a inflação a descer.

Já na Guiné-Bissau, quem pretender financiar-se junto das instituições financeiras (bancos comerciais), terá de suportar juros altíssimos, a rondar os 12%, o que impossibilita um financiamento eficaz da economia. O que estará por detrás destes juros altíssimos?

Um dos fatores que influenciam decisivamente estas taxas de juro está diretamente relacionado com a escassez de bancos existentes no país, bem como a ausência total do sistema financeiro descentralizado, o “microcrédito”, o que poderia servir do plano B ou alternativa ao sistema bancário.

Uma outra componente condicionante das elevadas taxas de juro no sistema bancário guineense está diretamente relacionada com a concentração em Bissau dos bancos, como também a percentagem do crédito, com os três maiores bancos em termos de depósitos e créditos (BAO, ECOBANK e ORABANK) a concederem mais de 75% do crédito em 2018.

Há o medo que esta forte concentração e consequente número reduzido de bancos no mercado possa estar a contribuir para as altas taxas de juros, já que a excessiva concentração nos créditos e dépositos pode estar a garantir aos bancos um forte poder de fixação de preço.
Sempre que se fala em juros altos, o “spread bancário” é mencionado. Mas afinal qual é o significado de spread? O cliente que deposita o dinheiro no banco, em poupança ou noutra aplicação, está de fato a fazer um empréstimo ao banco. Portanto, o banco remunera os dépositos dos clientes a uma certa taxa de juro (chamada taxa de juro de captação ou simplesmente taxa de captação). Analogamente, quando o banco empresta dinheiro a alguém, cobra uma taxa pelo empréstimo, taxa essa que será certamente superior à taxa de captação. A diferença entre as duas taxas é o chamado spread bancário.

RECOMENDAÇÕES
ü  Criar condições para a vinda de mais estruturas financeiras para o país, limitando assim o oligopolismo, a cartelização e a excessiva concentração, que resultam da falta de competição (com menos concorrência, a oferta de crédito e de produtos e serviços é relativamente menor, o que cria condições para que as taxas de juro se mantenham  elevadas).
ü  Incentivar a população a aplicar as suas poupanças nos bancos, em vez de na economia informal, como alertou o BCEAO na semana da “inclusão financeira” tida em Bissau em novembro de 2018, o que contribuiria para alargar a base de depósitos e assim reduzir a dependência que os bancos têm face a poucos mas grandes depositantes.

Relativamente à questão do preço de dinheiro (taxas de juro), há muito que a Guiné-Bissau assume a posição de país com  as mais elevadas taxas de juros no espaço UEMOA.

Por fim, finalizo este artigo com a célebre frase do meu professor da Economia Monetária e Financeira da Universidade Autónoma de Lisboa, e atual Reitor da mesma instituição, o Professor Doutor José Amado da Silva: “Para que o sector bancário português recupere a legitimidade perdida, e tenha uma função económica relevante, precisa de garantir os seus lucros através de ganhos de escala, e não através de spreads escandalosos”.

Apenas uma contribuição enquanto bancário.

Mestre Aliu Soares Cassamá

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