Os manuscritos de Amílcar Cabral que se encontram na Fundação Mário Soares, em Lisboa, vão regressar à Guiné Bissau com o apoio de Cabo Verde, Portugal e da CPLP, afirmou hoje o embaixador guineense na cidade da Praia.
No final de um encontro com o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas cabo-verdiano, Abraão Vicente, o embaixador guineense em Cabo Verde, M´Bala Alfredo Fernandes, afirmou aos jornalistas que esses documentos vão regressar à Guiné-Bissau, porque era lá que se encontravam antes de serem resgatados e preservados pela Fundação Mário Soares.
Trata-de de manuscritos daquele que é considerado o pai fundador das nacionalidades guineense e cabo-verdiana, originais, bem como alguns CD e livros importantes que foram digitalizados pela fundação portuguesa.
Na altura, recordou o diplomata, os arquivos “estavam totalmente estragados, queimados pelas tropas senegalesas e desprezados nas ruas de Bissau”.
“Foram as próprias autoridades guineenses de transição, na pessoa do primeiro-ministro Francisco José Fadul, que chamaram, em tempo útil, a Fundação [Mário Soares] e esta, na pessoa do administrador Alfredo Caldeira, seguiu para a Guiné numa viagem clandestina para recuperar os arquivos. É uma grande obra de solidariedade da Fundação Mário Soares para com a Guiné-Bissau”, afirmou.
O encontro de hoje, na cidade da Praia, demonstrou que “a diplomacia funcionou”.
“Recebemos do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde uma grande mão de solidariedade em ajudar que esses arquivos voltem para a Guiné-Bissau em todo o seu sentido, quer na ajuda do transporte, quer na ajuda da digitalização”, comentou o diplomata.
Cabo Verde, prosseguiu o embaixador, “vai pôr os técnicos do Arquivo Nacional a ajudar para que [o arquivo de Cabral] seja transportado para a Guiné-Bissau”.
Sobre o destino dos documentos, o diplomata disse que o mesmo nunca foi alvo de discussão: “O espólio saiu da Guiné Bissau. Nunca o Governo de Cabo Verde se intrometeu a dizer que vinha para cá ou iam para outro sítio”.
“Houve uma preocupação, neste caso do comandante Pedro Pires”, antigo Presidente cabo-verdiano e que preside à Fundação Amílcar Cabral, “que foi determinante nesse aspeto”, disse, referindo que este sempre alertou que "o espólio tinha de voltar para a Guiné-Bissau”.
O regresso deste arquivo de Amílcar Cabral à Guiné-Bissau será sempre após as eleições neste país, marcadas para 10 de março, e contará com a ajuda de Portugal, Cabo Verde e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Para o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, “a Guiné-Bissau e Cabo Verde têm de assumir a história comum e tudo o que tem a ver com Amílcar Cabral tem de ser tratado com a máxima discrição e seriedade”.
“Os arquivos têm de voltar à Guiné-Bissau, porque saíram da Guiné-Bissau. Só em caso de a Guiné não ter as condições e o dizer explicitamente e formalmente a Cabo Verde é que Cabo Verde poderá acolher os escritos e os arquivos”, prosseguiu.
Do encontro de hoje com o embaixador guineense ficou acordado que Cabo Verde vai disponibilizar serviços e apoio técnico para a preparação do espaço que irá receber o arquivo, bem como “algum tipo de apoio financeiro, que não será avultado nunca, devido aos constrangimentos”.1
Nesta conversa foi abordada a hipótese de uma visita ministerial de Cabo Verde à Guiné-Bissau, também para depois das eleições, de modo a “preparar as instituições culturais para um intercâmbio efetivo”.
Sobre a candidatura dos escritos de Amílcar Cabral ao Registo Memória do Mundo da UNESCO, Abraão Vicente disse que os trabalhos estão a decorrer.
“Ainda não existe candidatura, porque ainda não existe comissão nacional de memória do mundo, mas vamos ao longo dos próximos seis meses fechar este processo”, afirmou.
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