“Entre a falta de vontade da mudança e ausência de projetos para mudança.”
Há muito que se tem falado da obsessão deste povo em votar no PAIGC. Não faltam vozes que reclamam a reforma no partido de Cabral e outras, com mais ousadia, a gritarem pela extinção deste partido, que para muitas é o mal de todos os males da Guiné-Bissau. Se é certo que o PAIGC, sob liderança do gênio Amílcar, conseguiu brilho internacional com a libertação de dois países separados geograficamente pelo oceano, numa luta heroica contra o imperialismo português (Programa menor), não é menos verdade que as lideranças pós anos 80, dentro do PAIGC, afundaram por completo o sonho da construção da "Suíça de Africa", o " Programa Maior".
Foram anos da incompetência, da maldade, da promoção de mediocridade, da banalização do Estado, da corrupção, de assassinatos...que transformou esta pátria, erguida com suor e sangue, num cancro para a Africa e para o mundo, figurando o país na lista do mais pobre do mundo e na cauda da lista dos IDH.
Estes factos eram suficientes para o povo nunca mais votar neste partido? Sim. Os motivos são mais que suficientes.
Mas por que é que o povo ainda vota no PAIGC? Custa dizer, mas é POR FALTA DE UMA ALTERNATIVA MELHOR QUE O PAIGC. “O povo acaba sempre por votar no PAIGC como mal que se conhece, pois os políticos guineenses são tão iguais, mas tão iguais que é sempre mais seguro eleger o de costume como mal menor.”
Depois da guerra de 07 de junho, o povo votou massivamente numa alternativa. O povo sancionou o PAIGC nas urnas, dando o poder a outro partido. Era um período de muita esperança na mudança. Mas "a montanha pariu um rato". Em vez de alternativa transformou-se no purgatório abismal para a vida do homem guineense. Este partido fez exatamente o que o PAIGC fazia e/ou até pior.
Houve corrupção, nepotismo, clientelismo, tentativa da institucionalização do tribalismo, balantização das forças armadas, assassinatos, ano escolar nulo (alunos passa, pursoris ntchumba), serpentes a engolirem dinheiro, promoção de incompetência, 11 meses sem salário para os funcionários públicos... foi um rio de trevas que culminou com um golpe de Estado.
Depois disso...este povo ficou refém dos dois partidos "grandes". Numa lógica de corrida aos recursos financeiros, que piorou com a entrada dos comerciantes/empresários na corrida pelo poder.
Por um lado, o PAIGC que tem contado com a vontade popular e por outro o PRS que tem contado com um poder real, um poder " militar", pois o PAIGC deixou escapar este poder depois da guerra de 07 de junho.
Feito isso perguntemos:
É o povo que não quer mudar ou inexiste alternativas positivas para que a mudança ocorra?
Acredito que a conjuntura tem mudado pela positiva. E essa mudança está empurrando as pessoas, as lideranças e os partidos para uma mudança da forma de estar e fazer.
Seria ingénuo não reconhecer recentes reformas no PAIGC provocada pela mudança na liderança, sobretudo da competência do seu líder atual, contudo não é de ignorar futuras roturas internas. Do mesmo modo uma certa mudança no PRS com entrada de jovens capazes e com sede de oportunidade para a mudança, só que a sua liderança (Presidente) está longe do desejável quando se fala da competência e visão estratégica.
Há ventos da mudança fora destes dois eixos? Sim.
Com entrada em cena do Nuno Nabiam, que até aqui tem merecido minha admiração, com o surgimento de novos projetos e novos políticos (Nancy Schwarz, Fernando Casimiro "Didinho", Umaru Djau, Paulo Gomes...), pessoas com reconhecidas competências, poderá ocorrer uma revolução política no país para breve.
Haverá com certeza uma elevação no nível de debate político, que até aqui tem sido paupérrimo e voltado para discussões de pessoas e não de ideias/projetos. A par disso convém realçar também um crescente brotar da revolução cívica lucida, provocada pelos movimentos cívicos e concomitantemente uma mudança na comunicação social sobretudo na forma de fazer Rádio e jornal no país.
A verdade é que as próximas eleições prometem muita adrenalina e surpresas.
Que o povo saia vitorioso.
Por, Lesmes Mutna Freire Monteiro
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