O presidente do Sporting comunicou ao final do dia que não irá deixar o cargo, apesar da demissão da mesa da assembleia geral e do conselho fiscal e disciplinar do clube.
Jorge Jesus terá na sua posse provas sobre contactos entre Bruno de Carvalho e líderes da Juve Leo para autorizar os radicais desta claque do clube a “apertarem” com jogadores e equipa técnica, apurou o PÚBLICO junto de fonte próxima do treinador. Os contactos terão ocorrido logo a 6 de Abril, um dia depois da derrota da equipa em Madrid, frente ao Atlético (2-0), na primeira mão dos quartos-de-final da Liga Europa.
Estas provas poderão ser apresentadas às autoridades caso o treinador não chegue a acordo com a actual direcção dos “leões” para rescindir o seu contrato, dado que Bruno de Carvalho anunciou ontem que se manterá em funções.
Na próxima semana, Jesus pretende reunir-se com o presidente “leonino”, até quarta-feira, para formalizar a sua desvinculação dos quadros da SAD (sociedade anónima desportiva). Contudo, se as negociações abortarem, o treinador planeia rescindir unilateralmente invocando justa causa. Paralelamente, irá acrescentar ao depoimento que já fez na polícia, após os incidentes na Academia do clube, na terça-feira, um conjunto de dados de que teve conhecimento nos últimos dias e que considera relevantes para o que aconteceu em Alcochete.
O técnico acusa o actual líder “leonino” da autoria moral dos crimes de sequestro, atentado contra a sua integridade física (agressão qualificada) e de associação criminosa. E, tratando-se de crimes públicos, Jesus e os seus advogados consideram que caberá ao Ministério Público conduzir o inquérito e fazer a prova.
Jesus considera particularmente relevantes as declarações públicas do anterior director de instalações da Academia do Sporting, José Diogo Salema, que descreveu como estranhas as circunstâncias da invasão das instalações. De acordo com o antigo responsável, nos oito anos em que esteve à frente da segurança deste espaço as portas eram encerradas sempre que a equipa treinava. Para além disso, existem câmaras que permitiriam detectar as movimentações no exterior.
Os advogados do técnico poderão apresentar estas informações como elemento de prova pericial para acusarem a direcção do Sporting de dolo eventual (terem consciência do potencial perigo e nada fazer para o evitar) ou, pelo menos, negligência simples ou grosseira.
Mas não é só Jorge Jesus que pondera rescindir com os “leões” se Bruno de Carvalho se mantiver ao leme. Vários jogadores estão determinados a fazê-lo, pois não admitem negociar com o presidente “leonino”.
Bruno de Carvalho fica
O clima de total instabilidade no Sporting promete assim continuar, até porque Bruno de Carvalho, no final do dia desta quinta-feira, veio sublinhar aquilo que tinha dito logo pela manhã. Sente que tem condições para continuar à frente do clube e não se demitirá.
“Estão aqui presentes membros do conselho directivo, da comissão executiva da SAD e do conselho fiscal. O Sporting está a ser alvo de um ataque interno e externo. O objectivo é obrigar à nossa demissão. Não nos vamos demitir. A bem do Sporting, vamos ficar”, declarou o líder dos “leões” ao final da noite.
Apesar de cada vez mais cercado e pressionado para renunciar ao cargo, com a demissão da mesa da assembleia geral (AG) e do conselho fiscal e disciplinar (CFD) e com uma série de personalidades e mesmo antigos apoiantes a pedirem-lhe para sair, Bruno de Carvalho pretende continuar a exercer o seu cargo.
“Estamos disponíveis para prestar todos os esclarecimentos pedidos, tal como ficou comprovado com o pedido da convocação de uma assembleia geral extraordinária. Esse é o local próprio, de acordo com os estatutos, para esclarecer todas as questões”, acrescentou, dando conta daquilo que pretende fazer.
Esta intenção de Bruno de Carvalho, contudo, poderá não se concretizar, dado que Jaime Marta Soares, presidente da AG, revelou ontem que solicitou ao CFD demissionário – mas que se mantém em funções enquanto não for eleito outro – que instaurasse um processo disciplinar a Bruno de Carvalho e produzisse uma nota de culpa, com base na qual a AG poderia convocar uma assembleia geral de destituição da direcção. E, no caso de ser aprovada, a deliberação teria efeitos imediatos, cabendo à AG nomear uma comissão de gestão que dirigiria os destinos do clube até novas eleições. Só que tudo isto levará semanas a concretizar.
Pressões para a demissão
A decisão de Bruno de Carvalho se manter no cargo de presidente frustra uma série de pedidos expressos ao longo do dia de ontem. Um dos mais significativos foi o de Álvaro Sobrinho, líder da Holdimo, empresa que detém 28,8% da sociedade anónima desportiva (SAD) do Sporting.
“A direcção da Sporting SAD não merece a confiança do segundo maior accionista e deve apresentar a demissão”, disse o homem forte da Holdimo. Segundo Sobrinho, Bruno de Carvalho “está a pôr em risco os activos da empresa”. Para o empresário, os acontecimentos que têm envolvido Bruno de Carvalho, desde o episódio dos posts no Facebook após o jogo com o Atlético de Madrid até aos incidentes em Alcochete, “têm causado imensos problemas e danos reputacionais”, acrescentando que “era estúpido um accionista gostar desta situação”.
Também o banqueiro e sócio do Sporting José Maria Ricciardi defendeu ontem ser “absolutamente fundamental” que a administração da SAD e a direcção do Sporting se demitam. “Os factos e a gravidade de tudo a que temos assistido (...) levam-me a dizer que é absolutamente fundamental que tanto o conselho de administração da SAD como a direcção do Sporting se demitam o mais rapidamente possível”, disse José Maria Ricciardi.
“Quem pode resolver esta situação rapidamente são os próprios membros da direcção, demitindo-se e eu acho que eles o devem fazer por sportinguismo”, disse Ricciardi porque, “se houver problemas muito graves patrimoniais no Sporting, não responderão por eles, só o presidente. E eu espero que eles tenham isso em consideração”, vincou.
E até Eduardo Barroso, ex-presidente da AG do clube e um dos mais visíveis apoiantes de Bruno de Carvalho, apelou ontem à saída do dirigente. Sem deixar de elogiar o presidente “leonino” — “Bruno de Carvalho foi linchado na praça pública, durante anos” —, Eduardo Barroso considera que ele deve sair: “Para mim, neste momento, Bruno de Carvalho acabou o seu mandato.”
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