O terceiro candidato mais votado nas últimas eleições presidenciais de 2014, na Guiné-Bissau, afirmou que “em nenhum momento o Presidente José Mário Vaz será lembrado como melhor Presidente na história da Guiné-Bissau”. Advertência de Paulo Gomes foi expressa esta sexta-feira, 22 de Dezembro de 2017, depois de um encontro com o Movimento de Apoio “Paulo Gomes Presidente”, no qual defende que é impensável continuar a sonhar que o país terá impactos sem Assembleia Nacional Popular funcional e deputados à altura dos desafios conjunturais do país, sem eleições regionais ou sem bons responsáveis das Câmaras regionais.
“Portanto, a minha preocupação é ajudar na preparação da camada mais jovem, não só os meus apoiantes como também a todos que entendem que podem jogar um papel importante para que as regiões do país e as infraestruturas regionais estejam à altura dos desafios das suas populações e apoiadas devidamente”, sublinha Paulo Gomes, aconselhando os atores políticos a absterem-se de reações emocionais que não ajudem em nada.
O candidato derrotado na primeira volta das presidenciais de 2014 diz acreditar que se o país tivesse uma massa dirigente “crítica intelectual” e que potencialmente poderia assumir instituições, apresentando candidato a deputados e presidente de Câmara preparados, José Mário Vaz jamais teria feito o que tem feito e que continua a fazer.
Paulo Gomes admite que a posição persistente de José Mário Vaz em não ouvir ninguém, o tenha levado a descrédito no seio dos seus homólogos regionais, deixando o país dividido. Contudo, esclarece que o culpado não é quem ele nomeou Primeiro-ministro, mas sim o próprio José Mário Vaz.
“Olhávamos para José Mário Vaz como uma figura que iria cicatrizar tudo e unir o país. Porque teve vantagem mais do que qualquer presidente que passou na Guiné-Bissau, para mudá-lo. Teve a oportunidade de ter formação, de trabalhar no Estado [função pública] e no setor privado. Portanto é das figuras que podemos considerar de nova geração e que não lutou pela libertação nacional, mas não trouxe muitos “passivos”, apesar de ter a sorte de estar perdante um novo paradigma de gerir o país, decidiu escolher o seu próprio modelo para geri-lo e colocou o povo na situação em que se encontra”, refere.
De acordo com Paulo Gomes, é uma “vergonha nacional” quando o país não tem condições para garantir saúde à sua população, abrigando os cidadãos a recorrerem a Ziguinchor, região sul do Senegal, para serem tratados ou curados.
Certo, porém, que para Paulo Gomes, a boa notícia é que a posição de José Mário Vaz está a ser combatida pela oposição guineense de forma democrática até que termine o seu mandato, mas nunca renovar-lhe a confiança, porque segundo disse um país não se desenvolve apenas com ajudas externas, mas sim com investimentos para criar crescimento económico e, consequentemente, obter valor acrescentado na economia e criar confiança dos parceiros internacionais.
Acusa José Mário Vaz de quebrar essa relação de confiança que existia entre a Guiné-Bissau e a Comunidade internacional.
Paulo Gomes afirma que não é adepto nem protagonista de créditos, porque, de acordo com a sua explicação, numa sociedade como a da Guiné-Bissau onde a pobreza trouxe a cultura de ciúmes, tomar crédito ou assumir protagonismo de um determinado assunto é difícil.
Por isso, deixa duas propostas aos apoiantes centradas na continuidade de agregar pessoas que querem jogar um papel público nesse processo de apoio ao Paulo Gomes ao nível regional, incluindo a entrada das mulheres de uma forma massiva do processo de desenvolvimento do país e continuar a apostar na formação de uma massa crítica de pessoas que eventualmente poderão jogar um papel indispensável na ANP, no desenvolvimento e gestão local. E não esperar que JOMAV perca eleições para depois começar a pensar na preparação de programas, projetos e estratégias que podem mudar a economia do país.
“Vamos começar a trabalhar neste sentido com os nossos próprios meios e assim que o país conhecer mínimo de estabilidade fazer os projetos andarem”, esclarece ao Jornal O Democrata.
Gomes disse que o encontro com os apoiantes não tem nenhuma intenção de disputa ou concorrências de natureza partidária muito menos eleitoralista e afirma que a possibilidade de criar uma formação política é uma ideia que vai continuar em debate.
Quanto a esta questão, Paulo Gomes não afasta a possibilidade de criar ou não um partido político, mas deixa claro que neste momento é fundamental encarar a intenção como um processo em debate.
Lembrou aos jornalistas que a Guiné-Bissau apesar de ser um país com a identidade própria, continua a ser no mundo um país pequeno, vulnerável a qualquer tido de ameaça existente no mundo, com fortes possibilidades de ser destruído facilmente pelas ameaças como doenças, mudanças climáticas, ameaças com pendor religioso, desestabilizado com conspiração por organizações de grupos mafiosos e redes criminais, do que países como a Nigéria (com mais de cem milhões de pessoas), a China (mais de um bilião de habitantes) e a Índia.
“Cada vez que tenho que pensar sempre vejo esses aspetos antes de me pronunciar qualquer coisa, porque Estado é fraco e as instituições também são frágeis e sou pessoa que não age com a emoção ”, nota, sublinhando, contudo, que apesar de perder eleições decidiu “humildemente” apoiar o Governo ativamente na elaboração de estratégias que levaram o país à Mesa Redonda de Bruxelas em março de 2015.
Por: Filomeno Sambú/O Democrata com Conosaba do Porto
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