Destaque da semana: Le Pen se lança no estilo 'France first'
Le Pen prometeu tirar a França da União Europeia, se necessário. Também falou vigorosamente contra a globalização e prometeu melhores salários.
Le Pen prometeu tirar a França da zona do Euro e da União Europeia, se necessário. Também falou vigorosamente contra a globalização e prometeu melhores salários, mais empregos, menor tempo e melhor pensão para aposentadorias. Mas tudo isto veio envolto nas propostas xenófobas, anti-imigrantes, anti-refugiados, no estilo Donald Trump: “a França em primeiro lugar”.
A multidão gritava: “on est chez nous”, “estamos em casa”, traduzindo literalmente, mas conotando “esta casa é só nossa”. E Le Pen exortava uma política de “tolerância zero”, o que, fora de obediência às leis de trânsito, em geral significa discriminação e xenofobia. Resumindo, antes eram os judeus, hoje são os muçulmanos e outros “estrangeiros” à “família francesa.
O crescimento de Le Pen, para além do público tradicional do chauvinismo francês, significa que ela penetra num duplo vácuo. Primeiramente, no vácuo do desamparo promovido pelas políticas neo-liberais da austeridade, ou austericídio, como vêm sendo chamadas com muita justiça, que promovem o desemprego, a redução das aposentadorias, a precarização do trabalho, o encolhimento das políticas sociais - mais ou menos como ocorreu na Alemanha pré-nazista, depois da crise de 29. Em segundo lugar, ela penetra no vácuo deixado pelas esquerdas, incapazes, como na Espanha, de promover uma política comum e consistente em defesa daqueles valores sociais que ela abraça e embrulha em seu pacote de inspiração fascista - como aconteceu na Itália e na Alemanha nas décadas de 20, 30 e 40 do século passado.
Neste fim de semana houve também comícios promovidos pelos candidatos Jean-Luc Mélenchon, dos partidos mais à esquerda, e Emmanuel Macron, um político egresso do Partido Socialista que se apresenta como de centro, liberal em matéria econômica mas mais progressista em outros temas, como imigrantes, refugiados, salários e política sociais. As chances de Macron chegar ao segundo turno (em maio), depois do primeiro (em abril), cresceram com o declínio do conservador François Fillon, acuado por acusações de corrupção e nepotismo. Também cores eram depois que o Partido Socialista escolheu Benoît Hamon, da sua ala esquerda, como candidato presidencial. O atual primeiro-ministro, Manuel Valls, da ala direita, declarou ter dificuldades para apoiar Hamon, o que pode levar esta ala a apoiar Macron.
Os analistas dizem que Mélenchon, como na eleição passada, quando chegou em quarto lugar, continua tendo poucas chances. Em contrapartida, o candidato pediu que as pessoas, mesmo que não votem nele, leiam o seu programa.
Por sua parte, eufórica com a vitória de Trump e do Brexit na Inglaterra, Le Pen proclamou que “chegou a hora da virada” e que a Europa “acorda”.
Um detalhe interessante: apesar de deterem apenas 4% dos votos, os chamados “departamentos d’além-mar” (Martinique e Guadeloupe no Caribe, a Guiana Francesa na América do Sul, Mayotte e La Réunion no Oceano Índico) podem se tornar decisivos na eleição apertada que esta promete ser. Com altas taxas de desemprego e pobreza, seu eleitorado pode também migrar para a extrema-direita da Frente Nacional.
Conosaba/cartamaior
Sem comentários:
Enviar um comentário