Saturnina Santos, uma ex-guerrilheira das matas da Guiné-Bissau, é o rosto da associação que quer "melhorar a vida" da mulher rural no país onde as mulheres representam 52 por cento da população.
Saturnina Santos foi guerrilheira pela independência do país, estudou como radiotelegrafista e trabalhou nas Forças Armadas até 1998, quando decidiu despir a farda e dedicar-se ao associativismo.
Por não encontrar "nenhuma política nacional" virada para as mulheres rurais, Saturnina e outras ativistas decidiram criar uma associação que mostrasse aos governantes "o erro que é deixar de lado uma grande parte da população" guineense nas políticas públicas, referiu à Lusa.
"A mulher representa cerca de 52% da população guineense, destas quase 70% estão no campo e não existe uma política nacional" que as tenha em conta, acrescentou.
Viver na Guiné-Bissau, mesmo nas cidades, é complicado, no campo ainda mais, observou Saturnina, explicando as dificuldades do quotidiano.
"No campo, uma mulher trabalha a dobrar. Acorda primeiro que todos os membros da família e é a última a ir para cama. Se tiver arroz, tem que o pilar à mão, depois vai à mata, a procurar lenha e água, às vezes em zonas distantes da aldeia".
Depois é ela "que cozinha e ainda vai à ´bolanha´ (campo de plantação de arroz)", relata.
"É uma vida dura demais, muitas morrem antes do tempo", lamenta a secretária-geral da associação que quer ver alterado este cenário nos próximos tempos na Guiné-Bissau.
Saturnina Santos enaltece ainda um outro pormenor da mulher rural: "Não sabe ler, mas faz tudo para mandar o filho para uma escola nas cidades", refere.
A ativista diz que está cansada de ficar passiva perante "a dura realidade, que tarda em mudar", pelo que quer levar o Governo guineense a começar por reconhecer o dia Mundial da Mulher Rural - dia 15 de outubro, instituído pelas Nações Unidas desde 1995 na 4.ª Conferência Internacional sobre a Mulher, na China e na qual a Guiné-Bissau participou, lembra.
De seguida, a associação liderada por Saturnina Santos pretende introduzir na agenda questões como a alfabetização funcional, programas concretos de acesso à água, microcrédito e leis que lhes deem o controlo efetivo das terras onde trabalham.
"Há políticas para tudo nos centros urbanos: combate à pobreza, promoção do emprego, saúde, educação, mas não há nada em concreto focado para a mulher do mundo rural", defende Saturnina Santos, que também quer ver os parceiros de desenvolvimento a colaborarem com a sua associação.
A dirigente tinha "alguma esperança" no Governo eleito em 2014, mas quando se preparava para ir apresentar as suas ideias ao primeiro-ministro, o executivo foi demitido pelo chefe de Estado.
Se um dia a associação tiver o reconhecimento e o apoio de que precisa, a primeira ação será a realização de um Fórum Nacional da Mulher Rural, conclui Saturnina Santos.
Lusa/Conosaba
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