Flora Gomes leva história da Guiné-Bissau à Berlinale
Flora Gomes é o único representante dos PALOP no Festival Internacional de Cinema de Berlim. O cineasta guineense divulgou imagens do arquivo histórico de seu país na mostra Forum Expanded.
O cineasta guineense que encantou Cannes em 1992 e 1996 participa este ano, pela primeira vez, do Festival Internacional de Cinema de Berlim.
Apresenta cenas de 1976, em preto e branco, da cantora sul-africana Miriam Makeba na celebração dos dois anos da independência total da Guiné-Bissau e dos aniversários de Amílcar Cabral e de fundação do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
"Nesse dia, a Guiné realmente estava em grande. Foi um acontecimento único. Nunca mais se voltou a celebrar essa grandeza do país que tinha chegado à independência por uma luta que era única na história da humanidade. Um país que lutou e que, em plena guerra, unilateralmente proclamou o Estado que era reconhecido por mais de 70 países," avalia.
Flora Gomes paticipou no painel de discussão da mostra Forum Expanded, na passada quarta-feira (11.02), em Berlim
São imagens do arquivo do Instituto de Cinema, recuperadas pelo projeto Arquivo Visionário, do Arsenal - Instituto de Filme e Videoarte em Berlim.
Apenas 40% de todo o material filmado a partir de 1972 puderam ser salvos, conta Flora Gomes que na época acabara de regressar de Cuba, para onde havia sido enviado por Amílcar Cabral para estudar cinema.
"Quando chegamos, nos deram a câmera na mão e começamos a filmar nas chamadas zonas libertadas," lembra.
O cineasta recorda ter registrado imagens de "camponeses a transportar materiais de guerra para as zonas distantes, para os combatentes. Cozinheiros, os alunos nas escolas, nas matas de Guiné. Depois da independência a transferência dos quartéis, o estado em que a Guiné estava naquela altura."
Público que acompanhou o debate com presença do diretor guineense Flora Gomes, em Berlim
Eterna busca por financiamento
Com o material, Flora Gomes pretende produzir documentários históricos apoiados em entrevistas. O cineasta revela que grande parte do trabalho será empenhada em reconhecer as circunstâncias em que o material foi filmado "para depois reconstituir todas essas memórias."
O diretor guineense diz, no entanto, que ainda não tem recursos para o desenvolvimento deste projeto, o que, segundo ele, continua a ser um desafio para a produção cinematográfica na África lusófona.
"O necessário seria que houvesse uma forma de co-produção entre os países que falam português, que contam as histórias que algumas vezes até são parecidas, e isso não acontece. A circulação de filmes também não acontece, a não ser em festivais. O público gosta do que fazemos, isso é o que é estranho. Só não há uma distribuição normal. Não somos muito acarinhados, como gostaríamos que fosse," lamenta.
Depois da Berlinale, o cineasta guineense Flora Gomes permanece na capital alemã para a apresentação, na próxima terça-feira (17.02), no cinema Arsenal, de seu filme "Pau de Sangue", aquele que em 1996 participou da competição oficial do Festival de Cannes.
dw.de
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