quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

«CRÓNICAS DE BISSAU» NHO MORGADO DE SABEL



Há dias assim, dias que o sol deixa simplesmente de exibir o seu brilho ao público. Há noites também, que a lua rejeita aparecer para o baile. Essa noite é uma delas, o Nho Morgado de Sabel calmo e paciente, uma característica pouco comum no seu circuito de amizade, acabava de tomar o seu banho e foi para o quarto. A sua mulher, vulgarmente conhecida pela Nha Sabel, estava alegre, pensando que o seu marido ia logo para a cama, era um engano. Sentado na cama que se encontrava no meio do quarto, limpou o seu corpo calmamente e levantou-se, vestiu-se e saiu com uma pinta aromática, sem dizer nada. A mulher sabia que era sexta, por isso dispensava reclamações e boca puxada que não adiantava em nada. 

Bissau escuro, a lua insistia a não comparecer para o baile que animava as noites de sexta dos homens, mas isso não impedia o Nho Morgado de Sabel se meter no seu carro Renault Laguna Station Wagou, azul escuro, de caixa automática, para dar umas voltas à cidade acabrunhada de mistérios nocturnos. O objectivo era único, "engate". Era um termo pouco conhecido, só os que frequentavam as noitadas o conheciam, ou seja, o homem casado saia da sua casa para paparicar as garotas que se disponibilizavam a fazer companhia durante a escuridão. Por isso que o lobo, muito cedo, dizia que a noite é medonha, o escuro é perigoso e se o dia amanhecesse repentinamente muitos iam saber que não é apenas ele que se disfrutava da escuridão.

Aquela noite, além de escura, a chuva também ameaçava vir para o baile da cidade, porque a lua não queria comparecer, entretanto ela vinha para substitui-la e dar menos vida para os que estão na rua e mais aconchego para os que estavam na cama com os abraços apertados, porque vinha com o seu furor de sempre, o vento friorento.

Nho Morgado de Sabel, andou os sítios habituais: foi à Bambu 2000, o ambiente estava um pouco triste, os fregueses não gostavam da ameaça que a chuva fazia; decidiu ir à Sabura, tudo estava morno com a esperança de que a lua ia aparecer a qualquer momento; desceu até Stop, mas encontrou o mesmo panorama; seguiu para a Tabanka, podia contar no dedo da mão as pessoas que eram persistidas como ele; passou para a Plack, era um autêntico deserto.

Nho Morgado de Sabel resolveu voltar para o bairro de Pilum, a Sabura e a Stop estavam ainda com a esperança no aparecimento da lua como ele também, a esperança de conseguir um engate permanecia, embora a noite já tivesse crescido muito. Quando chegou, a esperança desmoronou-se, rapidamente mudou da estratégia. Encostou o carro azul escuro na berma de estrada ao pé de uma Taberna de Nar, pôs-se a ligar. Ligou três meninas, mas todas elas respondiam com uma voz do sono profundo. Voltou a lista dos contactos para procurar a quarta, foi precisamente nesse momento que uma voz fina lhe disse: "amigo, patin boleia!". Era a sorte da esperança.

Lá vai a boleia, Nho Morgado de Sabel para atrair a menina ordenou, através de um simples clique no botão, subir todos os vidros e ligou o AC. De repente, o bafo começou a ganhar o entusiasmo, o fedor vinha donde? Naturalmente da menina que não sabia o que era tomar banho há mais de um mês, ela era uma psicopata, literalmente doida. A sorte de desespero subiu a cabeça de Nho Morgado de Sabel, quando enxergou o anormal na menina, o que ele deve fazer agora?


Patin (em crioulo) significa oferece-me


A. VeraCruz

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