quinta-feira, 1 de maio de 2014

DR EDUARDO MONTEIRO: II PARTE PAN-AFRICANISMO

PAN-AFRICANISMO
II PARTE
Pois, como todos os movimentos surgem por necessidade de encontrar soluções ou transcender obstáculos, assim como atingir objetivos ora enquadrado numa época onde determinados quadros tratavam-se com direitos humanos exploração do homem negro em todas as suas dimensões, a presença viva, apesar da abolição da escravatura e as suas consequências rescaldantes. No início do século XIX, a escravatura ainda estava em vigor no sul dos Estados Unidos, mas não no norte, graças um decreto de 1787, que estabelecia o limite legal no Rio Ohio.
Efetivamente, uma minoria de negros no norte tinha atingido uma posição socio econômica próspera e alguns dos representantes desta classe começaram a desenvolver um sentimento de fraternidade racial que resultou em organizar o movimento cuja ideia era voltar para a África". Entre eles Paul Cuffe, um negro nascido livre, de pai africano e mãe ameríndia, que promoveu em 1815 uma tímida experiência de repatriamento para a África, antecessora da Sociedade Americana de Colonização fundadora da Libéria, mas os custos da empreitada dissuadiram-no.
No substrato intelectual que propiciou os movimentos abolicionistas, surgiram desde o início duas tendências na América do Norte: por um lado, os que acreditavam que a escravatura iria acabar, de uma forma ou de outra, e os que acharam que era necessário encontrar uma casa para ex-escravos em África, a sua terra de origem. 

Os britânicos tinham estabelecido uma colônia na Serra Leoa entre 1787 e 1808, que se destinava às pessoas libertas dos barcos escravistas que capturavam.
O outro ponto de vista era dos que afirmavam que os descendentes dos escravos deviam permanecer na América e que inclusive tinham que ser capazes de uma subsistência independente. Mas, no seio dos mais proactivos lutadores abolicionista, não acreditava que seria possível a raça negra e a raça branca pudessem viver no mesmo espaço, prosperes sem ressentimentos de um perpétuo conflito. Foram levados em consideração pensada pelas próprias pessoas negras que, de uma forma ou de outra, seriam sempre exploradas pelo sistema do homem branco.
Pois para alguns era necessário regressar a mãe pátria.
Mais tarde com africanos encena quando George Padmore, de Trinidade, e Kwame Nkrumah, do Gana, entraram em cena, e se juntaram a Du Bois, Jomo Kenyatta, do Quénia, ou do jamaicano Dudley Thompson, tomaram a importante iniciativa de realizaram o Congresso Pan-Africano de Manchester, em 1945, o seu Manifesto político andava à volta da necessidade das independências africanas.
Imbuído de um forte espirito de africanização ou re-africanização das mentes e o resgaste de o homem africano e a sua verdadeira dimensão, a libertação total do continente toma formas sérias. O próprio Nkrumah vai passar por várias fases de evolução política do seu pensamento sobre o pan-africanismo. A formação da OUA, em Maio de 1963, quando Nkrumah já era Presidente do seu país, marca o nascimento de uma visão mais pragmática e menos idealista do pan-africanismo, apesar de este continuar a proclamar a completa integração do continente. Entre a visão de Du Bois e a do jamaicano Marcus Garvey o debate é também sobre rodas de dicotomia as antagónicas: moderação e radicalismo. 
Para o que mais nos interessa no contexto histórico e o nosso enquadramento como africa lusófonas neste quadro é importante destacar que também os jovens africanos que em Lisboa reuniam se na mesma altura à volta do Centro de Estudos Africanos e se empenhavam no que chamaram de re-africanização dos seus espíritos”, no encalço do Congresso de Manchester, as influências e disseminação não se limitavam à descoberta destes protagonistas de língua inglesa e o movimento cultural do Harlem Renaissance. 
Jorge Amado e a literatura social brasileira, o pensamento socialista editado no Brasil, e descobrem a Revista Présence Africaine e a sua divulgação da negritude e poesia dita negra.
Amílcar Cabral e seus companheiros leem Na Présence Africaine o debate polarizante é antes entre: Léopold Sédar Senghor que promove um ideal pan-africano no domínio das ideias, da cultura e da estética, mostrando que a negritude é um valor que integra o todo universal e sem o qual este não têm sentido ou coerência, numa espécie de contraponto ao princípio hegeliano; e Aimé Césaire, da Martinica, que parece ter sido o criador do próprio termo “negritude”, e que devido às suas ligações ao Partido Comunista Francês que mais tarde denunciará como incapaz de transcender os seus preconceitos), imprime um conteúdo mais político.
A ponte entre os intelectuais da geração de Cabral, destacando a figura do Mário Andrade, e os movimentos em torno da revista Présence Africaine,acabara por ser levado acabo por iniciativa deste último.
Foi em 1947 que Alioune Diop, senegalês, criou a revista Présence Africaine, em Paris. Seis anos depois, Mário de Andrade, o “bibliotecário” do grupo que gravitava à volta da Casa dos Estudantes do Império em Lisboa, com expoentes intelectuais em Francisco José Tenreiro, de S. Tomé e Príncipe, e o próprio Amílcar Cabral, já estava a bater à porta de Alioune Diop à procura mais de constituir rede, do que emprego. Torna-se secretário particular de Diop; e com essa função vai desempenhar um papel na organização dos primeiros Congressos de Escritores e Artistas Negros em Londres, Paris e Roma.
As lutas pela Autodeterminação a independência estão a começar a ganhar corpo. As independências valorizadas são aquelas resultantes da demonstração de uma capacidade de protagonismo africano, como no Gana, Quénia, ou a Guiné de Sékou Touré; mas a inspiração primeira vêm do FLN argelino de Bem Bela. Todos, sem exceção, se referem ao pan-africanismo, apesar das divisões nítidas que depois encontrarão eco mais tarde na OUA, entre os moderados do grupo de Monróvia e os mais radicais do grupo de Casablanca.
Amílcar Cabral, no rubro da sua ação mobilizadora, multiplica as suas frentes de intervenção, para além da Guiné e Cabo Verde. A Frente Revolucionária Africana para a Independência e, depois, a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, são sua criação, secundado na intendência e trabalho intelectual por Mário de Andrade. Estas são formas mais elaboradas para dar corpo organizacional aos seus ideais, assumidamente pan-africanistas.
Terminando a II parte com o papel proeminente já de Amílcar Lopes Cabral.
Fica o compromisso de III Parte para não cansar o leitor
Eduardo Monteiro

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