Em Moçambique o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama exige que o exércíto governamental pare de o cercar para que ele possa também fazer pré-campanha com vista às eleições gerais previstas para outubro próximo.
Observadores e analistas consideram que o cerco é propositado justamente para impedir a segunda maior força da oposição de participar no processo e que tal pode durar ainda muito tempo.
Mas o partido já manifestou publicamente as suas intenções no contexto da crise e das eleições, declarou António Muchanga, porta-voz da RENAMO em entrevista à DW África. "O presidente Afonso Dhlakama na entrevista que deu basicamente manifestou o desejo de ver o conflito terminado, que se feche o dossier sobre questões militares e que sejam retiradas as tropas da zona onde estão para permitirem a normalidade política do país e principalmente para que possa circular como os outros condidatos às presidenciais estão a fazer."
Afonso Dhlakama deu nesta sexta-feira (23.05) uma conferência de imprensa, por telefone, a partir de algures na Serra da Gorongosa a vários media reunidos na sede da RENAMO em Maputo.
E Muchanga aos microfones da DW África sublinhou que chegou a hora de se concluir a fase da composição do exército, tema crítico na mesa de negociações entre a RENAMO e o Governo, e convidar a comunidade internacional a testemunhar as reformas das forças de defesa e segurança.
Entretanto, esta fase da negociação dura já muito tempo, e o Governo da FRELIMO há dois meses que se recusa negociar mais do que uma vez por semana.
Impedimento propositado
O porta-voz do principal partido da oposição considera que as limitações impostas ao seu líder são propositadas e argumenta: " Visa efetivamente fortalecer o candidato da FRELIMO porque mesmo para o presidente Dhlakama poder recensear houve uma ginástica muito séria, porque havia pessoas na FRELIMO que não aceitavam o seu recenseamento. Só se recenseou depois de mais de dez dias ter declarado o termo das ações militares pela parte da RENAMO. E o Governo não está a corresponder."
E enquanto Afonso Dhlakama permanece cercado, os principais partidos já estão em pré-campanha, principalmente a FRELIMO, partido no poder, que não cessa de promover o seu candidato Filipe Nyussi.
O analista político do Centro de Estudos Moçambicanos e Internacionais, Henriques Viola, tal como Muchanga, considera que encurralar Dhlakama é uma estratégia da FRELIMO, que visa também outros actores: "Não tenho dúvidas que se tente impedir Afonso Dhlakama de poder levar a bom termo a sua atividade política, mas simultaneamente também visa criar um clima de medo, um clima de tensão para os outros atores políticos para que estes não possam realizar as suas atividades da melhor forma".
Os "frutos" da crise para Dhlakama
Se por um lado Afonso Dhlakama e o seu partido estão limitados fisicamente em termos de pré-campanha, por outro, estão a ser muito mediatizados. Os dados em cima da mesa fazem com que analistas deem razão às reivindicações do partido.
Se realmente a intenção do Governo é limitar a RENAMO, então pode-se dizer que o tiro lhe saiu pela culatra? A resposta de Henriques Viola: "Vejo que a coisa está a ganhar o efeito boomerang, um efeito contrário ao desejado. Mas também não tenho dúvidas de que essas ações têm vários efeitos e um deles é precisamente reduzir o campo de manobra sob ponto de vista da atuação política direta, de contactos com os eleitores por parte de Afonso Dhlakama."
Mas, por outro lado, ainda de acordo com Viola "isso cria uma bipolarização demasiadamente intensa entre o Governo, liderado pela FRELIMO, e por outro a RENAMO, o maior partido da oposição, neste momento de governação nacional".
De qualquer forma o maior partido da oposição em Moçambique não está parado, de acordo com o seu porta-voz, António Muchanga, os seus membros já se posicionaram com vista às eleições de 15 de outubro próximo: "A RENAMO tem brigadas centrais em todo o país que estão a mobilizar os membros e simpatizantes desde a integração dos nossos homens nos orgãos eleitorais."
António Muchanga conta ainda que "neste momento, essas brigadas estão a dirigir a recolha de assinaturas para apoiar a candidatura do presidente Dhlakama, porque feitas as consultas os membros decidiram que é ele o candidato."
Relativamente a votação em si, o porta-voz garante: "Estamos a preparar as pessoas que irão estar nas mesas de voto. Nos próximos dias, na segunda quinzena de julho, vai ter início o processo dos membros das Assembleias provinciais e dos deputados à Assembleia da República."
DW.DE
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