Falando para uma sala que teve de ser
ampliada para acomodar cerca de 100 pessoas, constituída na sua esmagadora
maioria por guineenses, Julião Soares Sousa, descartou a possibilidade de um
conflito pós-eleitoral na Guiné-Bissau. Alertou, no entanto, para um cenário
diferente caso o partido vencedor das legislativas e o candidato vencedor das
presidenciais não for o candidato escolhido pelo partido vencedor das
legislativas ou ser de uma cor política diferente. Num cenário destes haveria
problemas de coabitação. “Por evitar isso os partidos devem apostar no
candidato que tenha condições objectivas e subjectivas para ser o próximo
inquilino do palácio Cor-de-Rosa, isto é, de ganhar as eleições e sobretudo no
candidato que acarreta menores riscos em caso de uma futura coabitação”,
afirmou Julião Soares Sousa. “A escolha de candidatos dentro dos partidos acaba
sempre por gerar ódios (in)compreensíveis dado o grande número de pré
candidatos”, rematou o historiador. Neste
sentido, assinalou ainda que estas eleições estão a ser encaradas por alguns sectores
da vida política guineense como se fossem as últimas, ou como eleições do tudo
ou nada. Outro cenário que o historiador guineense traçou é o da eventualidade de
nenhum partido concorrente alcançar a maioria absoluta para a formação de um novo
governo, o que provocaria “intensas e difíceis negociações
político-partidárias”. Mas, quer o cenário da coabitação quer o da não
existência de uma maioria absoluta, “são problemas que o país já experimentou
no passado recente. Poderão afectar o país por contágio, sem dúvida, mas tudo
isso faz parte do jogo político-partidário que as lideranças políticas deverão
estar adestradas a resolver com empenho, vontade política e habilidade e sem
que isso venha a degenerar em violência”. O importante, prosseguiu Julião
Soares Sousa, “é que se privilegie sempre o bom senso e o diálogo político e
que se ponha o interesse nacional acima dos interesses pessoais e
político-partidários”. “Esta é a melhor prevenção para qualquer conflito”, disse
o historiador guineense. Soares Sousa acha ainda que o nível das lideranças
políticas aumentou muito e que isso permite-lhe ser optimista quanto ao futuro
da Guiné-Bissau. “Alguns deles são quadros de grande valor, que muito ajudarão
a prestigiar e a criar uma boa imagem da Guiné-Bissau no exterior, prosseguiu
Julião Soares Sousa. A pobreza, a exclusão social e a criação de uma boa imagem
no exterior deverão ser ainda encarados como os grandes desafios dos próximos governos.
Por isso, as eleições “não são sinónimo de estabilidade” alertou. Propôs ainda
a realização de uma grande Conferência
Nacional para a Paz e Reconciliação Nacional, antes da tomada de posse
das novas autoridades, terminando com a assinatura de um Pacto de Regime com
carácter permanente por parte de todos os actores políticos guineenses e com a
criação de um Conselho
Nacional para a Paz e Reconciliação Nacional (CNPRN) que seria um
organismo que geriria doravante todas as questões relacionadas com a prevenção,
gestão e resoluções de conflitos. Na mesa da conferência que teve lugar nas
instalações do Hotel Vip Zurique em Lisboa, moderada pelo conhecido economista guineense
radicado em Portugal, Eduardo Fernandes, encontravam-se ainda o biólogo
guineense e Presidente do Fórum para o Diálogo e o Desenvolvimento da
Guiné-Bissau (FDDD), Aladje Baldé, e o Encarregado de Negócios da Embaixada da Guiné-Bissau
em Portugal, M’ bala Fernandes.
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