A falta de dinheiro e matéria-prima na Guiné-Bissau obriga artesãos a reciclarem resíduos: as peças não reflectem nenhuma preocupação ambiental, mas ajudam a combater a poluição que infesta todos os cantos do país.
A oficina de Belém, em Bissau, deita mão a velhos bidões, latas e ferro-velho que iriam acabar por enferrujar e contaminar ruas e campos.
Na oficina transformam-se em baús, cofres, bancos e outras peças pintadas à mão, decoradas com padrões que atraem sobretudo visitantes estrangeiros que conseguem dar com o sítio.
Um grupo de 20 homens trabalha no chão, num terreno alugado onde ergueram barracas improvisadas na terra batida ao lado da principal avenida da capital, sem eletricidade, nem água.
As paredes são canas entrelaças, o telhado é feito de pedaços de zinco e lá por baixo, num aparente caos, cada qual cumpre a sua tarefa: há peças novas a sair a toda a hora, mal o sol se levanta, até se pôr, e há sorrisos e gargalhadas por entre o ruído constante dos martelos, que vão moldando as chapas.
Umas peças são feitas por encomenda, outras são as mais procuradas e quando estão prontas vão logo para a beira da estrada - são o único sinal visível da oficina.
"Não temos nenhum armazém", explica Umaru Ba, 42 anos, natural da Guiné-Conacri, artesão há dois anos na oficina.
Questionado sobre se sabe o que é reciclagem, diz que é aquilo que fazem, do velho, tornar novo, mas sem qualquer ideia de proteção do ambiente.
"Não há lojas no país que vendam os materiais que usamos. Por isso, muitas vezes, nós aproveitamos as coisas que as pessoas deitam na rua", descreve.
Outras vezes "vamos aos sítios que compram ferro-velho, carros ou onde cortam chapa e é ai que compramos material", mas o dinheiro também não abunda.
Todos sorriem quando alguém pergunta pelo preço das peças, porque todos sabem que não há preço fixo, tudo se negoceia.
O pequeno cofre é o mais barato, a arca ou baú é a peça mais cara e pelo meio há artigos utilitários como os grelhadores a carvão ou as pás para vassoura, aponta outro artesão, Tcherno Madjo, de 35 anos.
"Antigamente só fazíamos azul e verde, depois passámos a usar vermelho e preto e as pessoas foram gostando. Mas nada bate o azul, é a cor mais procurada", nas peças 100% recicladas da Oficina de Belém, em Bissau.
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