sábado, 22 de março de 2014

BOM DIA ÁFRICA...A MINHA VAGINA NÃO É NEGOCIÁVEL !


Dia 25 de Maio, dia da África. Como todos os dias vou ao facebook ver o que se passou durante as minhas horas de ausência. Muita coisa escrita sobre este dia , muitas opiniões umas mais optimistas outras  menos optmistas sobre o futuro do continente.  Um post em particular chamou a minha atenção : refere-se a “gloriosa” luta das mulheres Togolesas que têm usado a greve de sexo para conseguir fazer passar algumas reivindicações relativas aos  seus direitos. Isto é, as mulheres refutam o contacto sexual com seus maridos ou companheiros até que as suas reivindicações sejam satisfeitas. Uma das passagens do artigo diz assim “....Na Libéria, país precursor da greve de sexo em África, a activista dos direitos humanos Leymah Gbowee, em 2003, convida as concidadãs a "cruzar as pernas" até que o presidente Charles Taylor, no poder de 1997 a 2003, aceitasse associar as mulheres nas negociações em curso com os “senhores da guerra”. Uma acção bem sucedida a ponto de que em 2011 Leyman Gbowee foi agraciada com o Prémio Nobel da Paz.....”


Pois bem a minha resposta é esta, e se sou feminista ou não pouco importa mas sei que sou mulher que presa pelo trabalho  e pela luta em REAVER  o que  me pertence usando a cebeça com dignidade e não oferencedo como moeda de troca a minha VAGINA.
Tenho pena que em África possivelmente devido a tantas dificuldades muitas vezes nos pautemos pela filosofia “ do mal o menor” ou aqui tudo passa  porque “quem tem um olho é rei” . Pois  se no meio do desespero aparece alguém “iluminada” mais ou menos activa com algum poder de influenciar e se decide a tomar determinadas iniciativas rápidamente encontra não só apoiantes como financiadores. Caso para dizer : em África tudo é possível e para África tudo serve. Vale até negociar a nossa VAGINA e o mundo  encara como normal e até aplaudem a nossa capacidade de luta vaginal. Afinal quanto tempo mais continuaremos nós mulheres a expor-nos como objectos sexuais?  Estranha-me que haja até organizações internacionais de defesa dos  direitos humanos e que lutam contra a discriminação da mulher aliados  a esta vergonha.  Para mim esta acção só revela que, nós as mulheres Africanas,  continuamos subjugadas à  maculidade dominante  e sempre que possível usamos, num jogo de “coquetismo” ridículo,   o poder da atracção sexual como arma. E assim continuaremos por muito tempo a ser objecto sexual dos homens. E pior ainda,   sentimo-nos  bastante confortáveis nesta pele de objecto sexual:   “ Meu querido, amante, amigo, companheiro, namorado, etc...etc... dá-me o que eu quero e eu dou-te a minha vagina “ . E o  mais revoltante é que,  enquanto mulheres,  estamos  a pedir, a negociar para ter aquilo a que temos direito, a dizer que nos devolvam o que é legitimamente nosso ou seja os nossos direitos, os nossos espaços, os nossos recursos que anos e anos de repressão motivada por uma concepção patriarcal das sociedades  nos ceifou .  Pois se desde Atenas( diz uma das passagens do texto ....)  foi usado este método de negociação da  VAGINA e até  hoje estamos onde estamos já era tempo de as Mulheres perceberem que as armas têm que ser outras. As nossas armas para o desenvolvimento têm que ser inventadas , refinadas, devidamente pensadas e estruturadas. Temos que  encontrar formas de luta que tenham efeito prático e que porporcionem resultados concretos mas SEMPRE numa luta com DIGNIDADE  sem termos que colocar no mercado a nossa VAGINA.
Ás minhas irmãs Africanas promotoras destas campanhas de “negociação da vagina” para retirar dos usurpadores os DIREITOS QUE SÃO NOSSOS digo:    VAGINA sempre tivemos.....e não  será por aí que chegaremos onde queremos e nem sequer nos dignifica ir por esse caminho pelo contrário tornamo-nos cada vêz mais objecto passível de negociação. Afinal temos um cérebro e é este o instrumento com que actuaremos sempre. Imaginem : há mulheres que desiludidas com o sexo oposto dizem  que “ os homens pensam com o orgão la de baixo e não com a cabeça”  Pois bem e agora? E nós? Que até prémios nobeis da paz chegam a usar este método de “ negociação da vagina”  e  achamos bem? O mais triste disto tudo é que serão muito poucas as vozes que se levantarão contra esta barbaridade de MÉTODO DA VAGINA uma vêz que a senhora Leymah Gbowee,  que até é prémio nobel da paz,  usou e incentivou outras mulheres a usarem este método . E nós em África que até adoramos o culto da personalidade não me admira nada que este tipo de campanhas venham a ganhar cada vêz mais corpo e força uma vêz que até a própria senhora nobel da paz negociou a sua vagina.   
Caras irmãs do continente, e agora perdendo um pouco as maneiras e o polimento...” mteress puku”  digo-vos que este método de pressão a mim dá-me nojo, dá-me asco, dá-me vergonha...
   Que me perdoem as mulheres Togolesas, que me perdoe a Sra. Nobel da Paz e todas aquelas que perfilham e apoiam este método de reivindicação mas vender , negociar a MINHA VAGINA  em troca dos meus legítimos mais que legítimos direitos ? ..NUNCA ! E espero que muitas mais mulheres  digam ...NUNCA !
Desejo um bom dia da África a todas as irmãs do continente:  Vamos pois, minhas irmãs,  usar  a CABEÇA para o desenvolvimento do continente. Este é o orgão que, em principio,  naturalmente e por excelência,   todo e  qualquer ser humano deve se servir para prosseguir os seus sonhos....

Helena Neves Abrahamsson


OBS: Este artigo não é um contra argumento e muito menos um ataque  ao artigo a que me refiro no Fcebook. Pois o artigo em referência limita-se a descrever os factos e  em algumas passagens, o autor muito cuidadosamente,   chega mesmo a colocar pontos de interrogação. Usei o artigo em referência para fazer o aproveitamento da excelente descrição dos factos e assim enviar a minha mensagem do dia de África 


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