NHA
BOCA CASTA LA
Para
quê fazer a ELEIÇÃO se o povo não tem a voz na matéria? Se quando o povo
escolher, o candidato não será aceite? Para quê se o povo não pode decidir nada
no seu próprio País? Se a saúde não anda bem? Se não pode dar uma opinião? Se
não pode ter nem a rédea da sua própria vida?
Para
o que serve a ELEIÇÃO, se lá se vive segundo a lei de bala? Não seria preciso
primeiro aplicar a LEI e a JUSTIÇA e limpar o País de malfeitores só depois
escolher os que são dignos de chefiar um País tão generoso como a Guiné?
Um
País bom para se viver, onde tudo floresce, rica em terreno para agricultura,
fauna, pesca, onde se respira um bom ar.
Esse
País só precisa dos líderes que não dizem: NHA BOCA CASTA LA; NON VOGLIO
SAPERE; MI DA IGUALE; I DON`T CARA; Cela NE ME REGARDE PA
Este
Povo precisa de ter uma vida condigna. Precisa recuperar o auto estima. Não
precisa vender a alma para se sobreviver.
Na
Guiné é uma honra as filhas amasiarem-se com um homem que pertence ao sistema.
Basta as meninas de 13/14 anos atingirem o corpo de mulher, serão vendidas para
o benefício da família. Elas saem a noite e os pais não lhes pergunta para onde
vão, como outrora se fazia na família. Não importa, de manhã trará o sustento
para casa. Quando não sair, eles perguntam:” então, hoje não vais brincar com
as tuas amigas?”. Qual é a diversão que se faz a noite e que dá dinheiro? Nessa
idade? Sem ser um emprego?
Como
foi que chegamos a este ponto? E a saúde? Como é que fica?
SAÚDE…SAÚDE…SAÚDE!
Dá
um aperto no coração pronunciar esta palavra sabendo que, não existe o seu
significado para o Povo da Guiné, porque os que estão no sistema não querem
saber. NHA BOCA CSTA LA.
A
saúde tornou-se comercial. Não há equipamentos, não há materiais, os hospitais
não têm o mínimo de condição de assistência aos pacientes. Os que estão no
sistema não se importam.
REPAREM
NESTE PORMENOR:
Uma
grávida no fim da gestação, para ter o seu bebé, precisa ter o dinheiro senão
morre ao dar a luz.
Quando
chega a maternidade, a primeira coisa que lhe perguntam: “ tem dinheiro?” Se
disser que sim, é atendida. Se disser que não, a resposta é: “ chega para lá e
deixa passar quem tem dinheiro. Nós não fazemos milagres “. A sério? Mas uma
verdadeira profissional faz milagres sim.
Ninguém
vai a maternidade despida. Pode-se fazer o parto e aproveitar a roupa da mãe
para proteger o filho de morrer de hipotermia ou seja de frio. Qualquer peça de
roupa, salva uma vida nestas condições. Até mesmo a peça da profissional.
Uma
testemunha contou que a sua prima foi ter o bebé na maternidade. Quando foi
mais tarde saber se correu bem, encontrou-a na sala sozinha, com a placenta por
extrair, a esvair-se em sangue, toda suja. Perguntou-lhe pela pessoa que lhe
estava a assistir e também pela criança. A parturiente respondeu a prima que a
criança estava num canto e já não a ouvia chorar há uns tempos, e que a
parteira disse-lhe que estava no fim do turno, ia sair, mas que ela seria
assistida pela colega do turno que estava para entrar o serviço, e que
precisava madrugar se quiser encontrar a alimentação para os seus filhos. Ela
foi ao canto indicado e encontrou a criança morta. És a razão pela qual a mãe
não a ouvia chorar. Estava deitada numa poça de sangue com o cordão umbilical
por laquear.
Não
teve coragem de dizer a aquela Mãe que o filho recém-nascido morreu por falta
de assistência, dado que ela também estava em risco. Tirou o lenço e cobriu a
criança. Apanhou a roupa e cobriu a mãe, que ficou a espera que chegasse a
Parteira de serviço para lhe extrair a placenta. Foi para casa preparar a sopa
para ela.
Quando
voltou a maternidade, nem a Mãe e nem o filho, estavam na sala. Perguntou por
eles. Recebeu a resposta de que os encontraria na casa mortuária. Foi o que
foi.
Como
foi que isso aconteceu?
Para
além de haver falta de equipamentos e falta de materiais, há também falta de
profissionalismo? Ou simplesmente é: NHA BOCA CASTA LA.
Então
e a promessa de “ juro usar o meu profissionalismo para cuidar dos outros,
independentemente da sua condição social “. O que se passa com os profissionais
de saúde da Guiné? Esqueceram-se de juramento?
A
hierarquia, o que faz perante esta situação? Sabem o que é que se passa?
Passa-se
que todos têm as suas clínicas particulares ou são sócios dessas clínicas.
Por
isso não há nem materiais e nem equipamentos nos hospitais públicos. Contudo,
existe meia dúzia que luta para que as coisas funcionem, mas não têm forças.
Perdem sempre a luta pela dignidade dos seus pacientes.
Os
que estão no sistema, não precisam daquela maternidade para nada, visto que,
mandam as suas esposas e as concubinas para terem os seus filhos ou em Dakar ou
em Lisboa. Por isso, NHA BOCA CASTA LA.
Em
que País é que 3 ou 4 parturientes ficam numa cama, onde só cabe uma pessoa?
Ainda mais sem lençóis e o colchão manchado de sangue?
A
própria sala de parto sem condições de higiene, placentas, compressas e
algodões por remover. A própria marquesa, onde se realizam vários partos, fica
por desinfectar. Não há condições mínimas de higiene para usar aquele ninho de
bactérias como uma sala de parto. Onde estão os responsáveis? Começando por
Director, Enfermeira chefe, Responsáveis por turnos e até as serventes, não
querem saber. Não recebem o ordenado há vários meses, têm dificuldades em
sustentar a família, por isso precisam facturar a custa dos pacientes. Não os
culpo por isso, mas pelo menos devem continuar a praticar o profissionalismo.
O
mínimo necessário como fazer o parto é um acto cívico, um acto de solidariedade
e de consciência profissional, mesmo faltando os equipamentos.
Ser
profissional de saúde é um acto digno, é humano e pessoal. Lembrar que, aquele
ou aquela paciente poderia ser um irmão, uma irmã, o pai ou a mãe, um primo, um
filho etc. etc.
Ser
profissional de saúde é ter o amor, o afecto e sentir a generosidade. É uma
profissão onde se dá sem esperar receber alguma coisa em troca.
Então
o que está de errado nos profissionais de saúde na Guiné? Venderam-se para o
sistema corrupto ou se renderam a fome e medo?
O
Povo da Guiné merece recuperar a sua dignidade mais rapidamente possível. Senão
será sempre NHA BOCA CASTA LA.
Onde
têm os olhos a Diplomacia creditada na Guiné? O que deve acontecer que ainda
não aconteceu, para a comunidade Internacional nos ajudar?
Esta
é a pergunta que todos querem fazer.
NHA BOCA CASTA LA.
Rosa Maria
Martins Gomes