A realizadora Inês Ventura, autora da curta-metragem "Contra a Maré", considera que a situação na Guiné-Bissau é difícil mas ainda há quem resista e mantenha a esperança num país que não deve estar sujeito aos parâmetros ocidentais.
"Trata-se de uma curta-metragem de documentário que acompanha o quotidiano de pessoas que nasceram, vivem e sonham na Guiné-Bissau. Pela Guiné-Bissau", explica Inês Ventura.
A realizadora quis documentar "um sonho (de país) ora de esperança, ora adiado, e que carrega nele o seu passado histórico colonial, que resiste ao destino traçado pelo Ocidente e pelas narrativas por ele escritas, quebrando a ideia de ser um país eternamente adiado, para que se construa uma sociedade com sentido para quem nela vive".
"Contra a Maré" partiu de um convite que Inês Ventura e o fotojornalista Mário Cruz, responsável pela fotografia do documentário, receberam do Instituto Marquês de Valle Flôr e da Fundação Fé e Cooperação (FEC), organizações não-governamentais para o desenvolvimento (ONGD) com projetos em curso na Guiné-Bissau.
"As duas ONGD estão a trabalhar em conjunto numa campanha que se chama 'tODxS' pela Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global', que procura criar uma consciencialização das pessoas para os desafios do desenvolvimento global", detalha Inês Ventura.
A curta-metragem "foi um desafio muito grande", que foi tentar incluir nos inicialmente 15 minutos previstos de duração -- e que ficaram em quase 19 -, os 14 depoimentos em temas tão vastos como a educação, saúde, direitos humanos e ambiente.
"A ideia foi basicamente através desta curta mostrar qual é que é o estado atual da Guiné-Bissau, não esconder os problemas atuais" e Inês Ventura destaca que a situação atual do país "é muito difícil".
De entre os depoimentos recolhidos, a realizadora diz que são os mais jovens a mostrar mais esperança no futuro do país.
"Os jovens estão a tentar resgatar os ideais de Amílcar Cabral. A resgatar essa vontade de que o país seja uma coisa diferente. Espero que (neste documentário) consiga mostrar que existe uma vontade ainda por parte da sociedade civil. Porque num país onde o Estado está ausente nas necessidades mais básicas dos seus cidadãos, é natural que haja uma desesperança, mas há uma resiliência ainda bastante grande, pelo menos das pessoas que ouvimos para esta curta-metragem", vinca.
Questionada se também tem esperança, como os jovens que ouviu, Inês Ventura responde que é "uma pergunta difícil de responder".
"Não é fácil responder. Foi também a primeira vez que eu estive na Guiné-Bissau. Eu, se calhar poderei ter-me deixado contaminar um bocadinho pela esperança desta camada mais jovem, digamos assim. Mas sei que vai ser muito difícil, porque realmente a situação política não atravessa propriamente uma fase muito saudável. Havendo mesmo, se calhar, creio, uma crise democrática, com alguns atentados à liberdade de expressão", nota.
Inês Ventura destaca o trabalho da Liga Guineense dos Direitos Humanos.
"Eles têm feito um trabalho excelente, de denúncia do que se tem passado E acho que existem bastantes movimentos de resistência nesse sentido, de denúncia do que se está a passar neste momento na Guiné-Bissau. E espero honestamente que consigam, mas sei que vai ser muito difícil", antecipa.
Com produção da Narrativa, do Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF) e da Fundação Fé e Cooperação (FEC), a curta-metragem "Contra a Maré" estreia neste domingo no Cinema Fernando Lopes, em Lisboa.
O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, dissolveu o parlamento em dezembro do ano passado, apenas seis meses depois das eleições legislativas de 04 de junho, contra o prazo de 12 meses estabelecido na Constituição para esse efeito, abrindo uma nova crise política no país.
O chefe de Estado marcou as eleições legislativas para 24 de novembro próximo, mas a um mês do escrutínio ainda não foi divulgada a lista oficial dos partidos e coligações que concorrem.
Conosaba/Lusa
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