terça-feira, 3 de março de 2015

PRIMEIRO-MINISTRO DE ISRAEL ANTECIPA CRÍTICAS A OBAMA POR EVENTUAL ACORDO COM IRÃO

O Governo israelita está convencido de que se prepara um acordo até finais de março, entre as grandes potências do grupo 5+1 (Estados Unidos, Russia, China, França, Reino-Unido e Alemanha) e o Irão, que não irá impedir o regime xiita de se dotar um dia da bomba atómica.

Terça-feira, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, deverá falar ao Congresso dos EUA, num discurso muito aguardado que se espera severamente crítico da estratégia do Presidente norte-americano face ao programa nuclear iraniano. Netanyahu garantiu já hoje que, com esse discurso, não tenciona "desrespeitar Obama", mas defender "a sobrevivência" de Israel, ameaçada se o Irão desenvolver armas nucleares.

"Planeio falar sobre um regime iraniano que ameaça destruir Israel, que está a devorar país após país no Médio Oriente, que exporta o terror pelo mundo inteiro e que ameaça desenvolver, neste momento, a capacidade de produzir armas nucleares... muitas delas", antecipou Netanyahu perante os simpatizantes do maior grupo de pressão pró-israel reunidos em Congresso em Washington, o AIPAC.

O primeiro-ministro israelita frisou que o objetivo do discurso perante o Congresso "não pretende desrespeito algum para como Presidente Obama ou o cargo que ele ocupa, tenho muito respeito por ambos".

"O objetivo do meu discurso perante o Congresso amanhã é erguer a voz contra um potencial acordo com o Irão que pode ameaçar a sobrevivência de Israel. O Irão é o maior patrocinador de terrorismo do mundo", disse Netanyahu, acusando o Governo de Teerão de treinar, armar e enviar terroristas para os cinco continentes.

"O Irão envolve o mundo inteiro com os seus tentáculos de terror", afirmou.

"Hoje temos uma voz"

"Imaginem o que fará se tiver armas nucleares", avisou o primeiro ministro de Israel, desenhando um cenário ainda mais sombrio para o seu país. "Esse mesmo Irão jurou aniquilar Israel e se desenvolver armas nucleares terá adquirido os meios para conseguir esse objetivo."

"Não podemos deixar que isso aconteça!" apelou Netanyahu, muito aplaudido pela assistência ao congresso do Comité para as Relações da América e Israel, o AIPAC. O primeiro ministro israelita comparou as diferenças. "Os Estados Unidos existem numa das regiões mais seguras do mundo. Israel vive na região mais perigosa do mundo. A América e o poder mais forte do mundo, Israel é forte mas muito mais vulnerável. Os líderes americanos preocupam-se com a segurança do seu país. Os líderes israelitas preocupam-se com a sobrevivência do deles".

"Como primeiro ministro tenho a obrigação moral de falar face a estes perigos enquanto ainda há tempo de os evitar", justificou Netanyahu, sublinhando que os judeus não voltarão a sofrer "perseguições sem descanso e ataques horríveis... sem conseguir falar por nós mesmos e sem nos podermos defender."

"Nunca mais!" prometeu Netanyahu. "Nunca mais! Os dias em que o povo judeu sofria passivamente perante a ameaça de aniquilação, esses dias acabaram!" exclamou, provocando uma enorme ovação.

"Já não nos calamos, já não estamos silenciosos. Hoje temos uma voz. E amanhã eu como primeiro ministro do único Estado judeu no mundo, pretendo usar essa voz", prometeu o chefe do Governo israelita.

Aliança sólida e forte"

Netanyahu tentou igualmente inverter a ideia de que as suas críticas à Administração Obama, relativamente ao programa nuclear do Irão, implicam um afastamento entre os dois aliados de longa data. Recusa também que Israel se torne um peão da política norte-americana.

"Uma razão importante que explica porque é que a nossa aliança se tem fortalecido década após década é que tem sido apoiada por ambos os partidos e assim deve continuar" disse Netanyahu. A aliança que une os dois países "está mais forte do que nunca" e continuará a melhorar disse o primeiro ministro israelita, acrescentando que o anúncio do fim das relações entre Estados Unidos e Israel "é falso".

"Vocês estão aqui para dizer ao mundo inteiro que o anúncio do fim da relação com os Estados Unidos é, não só prematuro, como falso", disse o primeiro-ministro israelita aos delegados do congresso do AIPAC.

"A nossa aliança é sólida, a nossa amizade é forte e com os vossos esforços tornar-se-á ainda mais forte nos próximos anos" vaticinou.

Alta tensão

O facto é que a visita de três dias de Netanyahu, que o próprio classifica "missão histórica", assim como o convite endereçado pelo presidente do Congresso, John Boehner, foi combinada nas costas da Administração Obama e está a provocar muito mal-estar.

Nestes três dias, o primeiro-ministro de Israel não irá ser recebido na Casa Branca nem se reunirá com Obama. Para justificar estas decisões a Casa Branca evocou a proximidade das eleições legislativas em Israel, marcadas para 17 de março. 

Também o vice-presidente americano, Joe Biden, que costuma presidir às sessões conjuntas no Capitólio, vai estar ausente na terça-feira, durante o discurso de Netanyahu.

Críticos da política de Jerusalém face aos palestinianos, particularmente em Gaza e na construção de colonatos à revelia das decisões internacionais, mostram-se por seu lado desagradados por ver outro país a pressionar e influenciar a política externa norte-americana. 

Garantias americanas

Para tentar por água na fervura, a diplomacia americana defendeu hoje Israel e garantiu-lhe proteção. 

No Congresso do AIPAC, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Samantha Power, garantiu que Washington vai impedir Teerão de obter a bomba atómica e que irá proteger a segurança do seu aliado, Israel. Os "ataques odiosos" contra a "legitimidade" de Israel devem "cessar", disse ainda Power

Ao reunir-se com enviados iranianos em Montreux sobre o programa nuclear do Irão, tão criticado por Netanyahu, o Secretário de Estado John Kerry avisou por seu lado contra fugas de informação sobre o acordo que se prepara, garantindo que este não será alcançado "a qualquer preço". "Pretendemos que todas as vias para o nuclear fiquem encerradas", afirmou Kerry. 

A Casa Branca desmentiu ainda estar a considerar um corte no auxílio americano a Israel em retaliação pelas críticas de Netanyahu, aventada pela comunicação social israelita. Esta fala de cortes e de reticências financeiras de Washngton relativamente a vários programas, nomeadamente ao sistema de interceção de mísseis balísticos "Arrow 3".

"Essas informações são falsas", garantiu a porta-voz do Conselho de segurança nacional Bernadette Meehan.

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