quarta-feira, 15 de julho de 2020

A militância “kamikaze” e a destruição de projetos políticos na Guiné-Bissau


            Hoje, depois de ter contemplado as cenas dos últimos dias, a propósito de uma manifestação de autointitulados “ativistas” guineenses, achei oportuno tirar um pouco do meu tempo para escrever breves linhas sobre como se pode ganhar e perder o poder. 

Na verdade, não era a primeira vez que via cenas lamentáveis de cidadãos guineenses e até de estrangeiros (pasme-se) que a coberto do facebook e dos diretos, usam todo o poder (quase) discricionário que esta rede social ou outras lhes proporcionam para difundirem notícias falsas e alarmistas, insultarem cidadãos indefesos e, inclusivamente, os orgãos de soberania e os nossos povos. 

Alguns chegam mesmo a ameaçar o nosso Estado. Circulam por aí autênticos “exércitos de malfeitores”, grupos rivais de militantes “kamikazes” que parecem organizados e devidamente instruídos para provocarem o caos e a desordem e assim transformarem uma atividade nobre que é a política com elevação e à base de ideias, de projetos e de argumentários convincentes, num grande ring, onde não há respeito pela dignidade das pessoas e das instituições. 

O mais caricato é que não se vê nenhuma organização política ou líderes políticos a saírem em defesa de princípios e da ética e acabarem com essa panaceia. Até mesmo o Parlamento guineense continua a assobiar para os lados, conivente e silencioso como uma pedra. 

Ninguém faz declarações no sentido de acalmar a fúria incompreensível desses militantes “kamikazes” que estão litarealmente a deitar para o lixo se calhar algum trabalho (digo eu) de gente séria que partimos do pressuposto que querem o melhor para a Guiné-Bissau. Não se vê movimentações nenhumas para acabar, o mais rapidamente possível, com esse espetáculo triste e degradante que vimos há dias e temos vindo a acompanhar nos últimos anos. Talvez até os partidos  representados na ANP pensem que esta “guerra” inaugurada há muito poucos anos no facebook e nas redes sociais os beneficia. Quem pensar assim está redondamente enganado. 

Aliás, esta é a forma mais fácil de perder o poder e a credibilidade. A seguir vem o deslumbramento e os erros que por vezes são cometidos nos cargos sem se fazer nenhum exercício autocrítico. 

Mas vale a pena ainda fazer as seguintes interpelações: por conta de quem correrão esses exércitos de “kamikazes”? 

Quem é que eles apoiam verdadeiramente? Acaso apoiarão alguém? Sinceramente! E mais! Alguém os incentivará? Acho que ninguém, em pleno juízo, aceitaria o apoio destas pessoas ou, em última análise, os incentivaria. Desde logo, eu não aceitaria esse apoio, nem incentivaria esses grupos, porque conheço perfeitamente os genes que carregam. Não política não pode valer tudo. Isso seria alienar para esses grupos um poder inimaginável, real e perigoso. 

Perigoso  porquê? Porque amanhã se virarão contra quem, alegadamente, pensam que estão a apoiar hoje. Tal como fizeram há dias com a nossa senhora Ministra dos Negócios Estrangeiros. Quer dizer, ontem ela era vista como heroína e da noite para o dia se transformou numa vilã. Há meses foi com o Presidente José Mário Vaz que insultaram com insultos grosseiros até atingindo os seus progenitores. Qual foi o resultado disso? Que benefícios amealharam? 

Alguém pode em pleno juízo aceitar ou arregimentar apoiantes desses? Os exemplos abundam e o contributo destas pessoas para a elevação do debate é quase nulo para não dizer nulo. Dezenas e centenas de jovens e de adultos enveredaram-se por essa forma de “trabalho” que podemos considerar de péssimo. “Trabalho” péssimo, mas bem remunerado pelos vistos, porque tem havido pessoas que foram literalmente promovidas a custa dessa sujeira de colarinho branco. E para se chegar lá foi preciso insultar, dririgir os mais graves impropérios até contra o país onde nasceram. 

Tudo isto tem dado azo, inclusivamente, a que gente estranha se imiscua nos assuntos internos da Guiné-Bissau. Quem conhece a História da Guiné (Bissau) sabe perfeitamente que o guineense não gosta disso. Rapidamente se posiciona em defesa da sua terra. Insisto ainda com a pergunta por quem correrão mesmo estes indivíduos? Que alguém venha a terreiro explicar-me...

A Guiné precisa de paz e de união. Mas, na política podemos andar depressa, mas o que não é preciso é correr muito, como dizia Amílcar Cabral. Por vezes as formas de luta podem tornar inglória e vã qualquer tentativa almejada de transformação. Sobretudo, quando os meios não se adequam aos fins visados. Algumas formas de luta tendem mesmo a caucionar a ausência de argumentário ou a sua ausência/inexistência. Daí o recurso a comportamentos degradantes. Para terminar este meu pequeno exercício, queria ainda dizer que vejo hoje uma grande necessidade de associar aos grandes e inabaláveis desafios que a Guiné-Bissua tem pela frente a dimensão pedogógica na tarefa hercúlea de transformação do país. 

Tudo o que  se quer fazer tem de ser entendível pelas populações. A luta para travar os “kamikazes” da baixa política guineense e da chicana deve ter também um forte cunho pedagógico, assim como a luta  contra a corrupção. Quando as populações começarem a entender e constatarem com os seus próprios olhos (e penso que já estão) que estes “kamikazes” prestam um mau serviço ao país e à unidade nacional e que provocam deserção ou que contribuem para desmobilização todos entenderão a justeza da luta que todos precisamos de fazer sem tréguas contra estes malfeitores. Ainda bem que fazem videos nos seus diretos e os colocam a circular na internet. 

Felizmente, hoje, em todos os cantos da nossa terra, as pessoas já conseguem acompanhar tudo o que se passa nas mais recônditas geografias do globo. 

O mesmo deverá ocorrer no que a luta contra a corrupção diz respeito. Os povos da Guiné-Bissau só entenderão a justeza dessa luta quando virem que escolas, hospitais e estradas estão a ser construidas com o dinheiro roubado e recuperado. 

Esta é a única fórmula para acabar com esta ganância que sequestrou o Estado e as instituições da República.  Que o exército de “kamikazes” continue essa luta inglória e colherão os frutos amargos que semearem.

Julião Soares Sousa


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