Hoje,
depois de ter contemplado as cenas dos últimos dias, a propósito de uma
manifestação de autointitulados “ativistas” guineenses, achei oportuno tirar um
pouco do meu tempo para escrever breves linhas sobre como se pode ganhar e
perder o poder.
Na verdade, não era a primeira vez que via cenas lamentáveis de
cidadãos guineenses e até de estrangeiros (pasme-se) que a coberto do facebook
e dos diretos, usam todo o poder (quase) discricionário que esta rede social ou
outras lhes proporcionam para difundirem notícias falsas e alarmistas,
insultarem cidadãos indefesos e, inclusivamente, os orgãos de soberania e os
nossos povos.
Alguns chegam mesmo a ameaçar o nosso Estado. Circulam por aí
autênticos “exércitos de malfeitores”, grupos rivais de militantes “kamikazes”
que parecem organizados e devidamente instruídos para provocarem o caos e a
desordem e assim transformarem uma atividade nobre que é a política com
elevação e à base de ideias, de projetos e de argumentários convincentes, num
grande ring, onde não há respeito pela dignidade das pessoas e das
instituições.
O mais caricato é que não se vê nenhuma organização política ou
líderes políticos a saírem em defesa de princípios e da ética e acabarem com
essa panaceia. Até mesmo o Parlamento guineense continua a assobiar para os
lados, conivente e silencioso como uma pedra.
Ninguém faz declarações no sentido
de acalmar a fúria incompreensível desses militantes “kamikazes” que estão
litarealmente a deitar para o lixo se calhar algum trabalho (digo eu) de gente
séria que partimos do pressuposto que querem o melhor para a Guiné-Bissau. Não
se vê movimentações nenhumas para acabar, o mais rapidamente possível, com esse
espetáculo triste e degradante que vimos há dias e temos vindo a acompanhar nos
últimos anos. Talvez até os partidos
representados na ANP pensem que esta “guerra” inaugurada há muito poucos
anos no facebook e nas redes sociais os beneficia. Quem pensar assim está
redondamente enganado.
Aliás, esta é a forma mais fácil de perder o poder e a
credibilidade. A seguir vem o deslumbramento e os erros que por vezes são
cometidos nos cargos sem se fazer nenhum exercício autocrítico.
Mas vale a pena
ainda fazer as seguintes interpelações: por conta de quem correrão esses
exércitos de “kamikazes”?
Quem é que eles apoiam verdadeiramente? Acaso
apoiarão alguém? Sinceramente! E mais! Alguém os incentivará? Acho que ninguém,
em pleno juízo, aceitaria o apoio destas pessoas ou, em última análise, os
incentivaria. Desde logo, eu não aceitaria esse apoio, nem incentivaria esses
grupos, porque conheço perfeitamente os genes que carregam. Não política não
pode valer tudo. Isso seria alienar para esses grupos um poder inimaginável,
real e perigoso.
Perigoso porquê? Porque
amanhã se virarão contra quem, alegadamente, pensam que estão a apoiar hoje.
Tal como fizeram há dias com a nossa senhora Ministra dos Negócios Estrangeiros.
Quer dizer, ontem ela era vista como heroína e da noite para o dia se
transformou numa vilã. Há meses foi com o Presidente José Mário Vaz que
insultaram com insultos grosseiros até atingindo os seus progenitores. Qual foi
o resultado disso? Que benefícios amealharam?
Alguém pode em pleno juízo
aceitar ou arregimentar apoiantes desses? Os exemplos abundam e o contributo
destas pessoas para a elevação do debate é quase nulo para não dizer nulo.
Dezenas e centenas de jovens e de adultos enveredaram-se por essa forma de
“trabalho” que podemos considerar de péssimo. “Trabalho” péssimo, mas bem
remunerado pelos vistos, porque tem havido pessoas que foram literalmente
promovidas a custa dessa sujeira de colarinho branco. E para se chegar lá foi
preciso insultar, dririgir os mais graves impropérios até contra o país onde
nasceram.
Tudo isto tem dado azo, inclusivamente, a que gente estranha se
imiscua nos assuntos internos da Guiné-Bissau. Quem conhece a História da Guiné
(Bissau) sabe perfeitamente que o guineense não gosta disso. Rapidamente se
posiciona em defesa da sua terra. Insisto ainda com a pergunta por quem
correrão mesmo estes indivíduos? Que alguém venha a terreiro explicar-me...
A Guiné precisa de paz e de união. Mas, na
política podemos andar depressa, mas o que não é preciso é correr muito, como
dizia Amílcar Cabral. Por vezes as formas de luta podem tornar inglória e vã
qualquer tentativa almejada de transformação. Sobretudo, quando os meios não se
adequam aos fins visados. Algumas formas de luta tendem mesmo a caucionar a
ausência de argumentário ou a sua ausência/inexistência. Daí o recurso a
comportamentos degradantes. Para terminar este meu pequeno exercício, queria
ainda dizer que vejo hoje uma grande necessidade de associar aos grandes e
inabaláveis desafios que a Guiné-Bissua tem pela frente a dimensão pedogógica
na tarefa hercúlea de transformação do país.
Tudo o que se quer fazer tem de ser entendível pelas
populações. A luta para travar os “kamikazes” da baixa política guineense e da
chicana deve ter também um forte cunho pedagógico, assim como a luta contra a corrupção. Quando as populações
começarem a entender e constatarem com os seus próprios olhos (e penso que já
estão) que estes “kamikazes” prestam um mau serviço ao país e à unidade
nacional e que provocam deserção ou que contribuem para desmobilização todos
entenderão a justeza da luta que todos precisamos de fazer sem tréguas contra
estes malfeitores. Ainda bem que fazem videos nos seus diretos e os colocam a
circular na internet.
Felizmente, hoje, em todos os cantos da nossa terra, as
pessoas já conseguem acompanhar tudo o que se passa nas mais recônditas
geografias do globo.
O mesmo deverá ocorrer no que a luta contra a corrupção
diz respeito. Os povos da Guiné-Bissau só entenderão a justeza dessa luta
quando virem que escolas, hospitais e estradas estão a ser construidas com o
dinheiro roubado e recuperado.
Esta é a única fórmula para acabar com esta
ganância que sequestrou o Estado e as instituições da República. Que o exército de “kamikazes” continue essa
luta inglória e colherão os frutos amargos que semearem.
Julião Soares Sousa
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